Depois de serem detidos, vendados e terem os equipamentos apreendidos no Egito, o repórter Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, conseguiram sair do Cairo e chegar hoje (4) por volta do meio-dia a Paris. Da França, Corban disse à Agência Brasil que ele e Gilvan só conseguiram dormir no voo, pois, enquanto estavam no aeroporto egípcio temiam pela própria segurança, cercados por policiais e militares armados.
Para Corban, a pressão contra o trabalho da imprensa no Egito é um ato de desespero do governo do presidente Hosni Mubarak.
Leia a seguir, os principais trechos da entrevista de Corban.
Agência Brasil – Depois dessas últimas horas, o que vem à sua cabeça?
Corban Costa – Só conseguimos relaxar de verdade, dormir e desligar do mundo, no avião, no voo do Cairo para Paris. Eu e o repórter cinematográfico Gilvan Rocha não desligamos um minuto sequer, enquanto estávamos no aeroporto no Cairo, porque havia militares e policiais por toda parte. No aeroporto no Egito, nós dois ficamos isolados outra vez.
ABr – No geral, a imprensa estrangeira denuncia a pressão do governo do presidente Hosni Mubarak para impedir a divulgação de informações e imagens. Qual sua análise sobre isso?
Corban – A impressão é de desespero por parte do governo Mubarak. Há informações de que o governo paga para que funcionários públicos e outras pessoas façam campanha em favor do Mubarak e agridam os estrangeiros. A orientação é sufocar os movimentos de protestos contrários ao governo.
ABr – Há relatos de jornalistas estrangeiros que foram agredidos, humilhados e roubados, com vocês ocorreu isso também?
Corban – Acho que tivemos mais sorte. Por exemplo, fomos presos junto com uma equipe de uma televisão francesa. Essa mesma equipe foi presa e apanhou duas vezes: uma quando estava na prisão e outra quando foi solta e parada pela fiscalização policial. Conosco isso não aconteceu. Não houve agressões verbais ou físicas na prisão nem fora dela exceto um policial que nos colocou em uma van, de maneira um pouco mais incisiva.
ABr – Mas na prisão você teve a sensação que ia morrer?
Corban – Isso passa, sim, pela cabeça porque colocam venda nos olhos, levam a gente para um lugar desconhecido, depois tiram as vendas e nos deixam a mercê da própria sorte. Ninguém fala nada a não ser um interrogatório. Passei 18 horas em uma sala mínima que não havia água nem banheiro, só duas cadeiras e uma mesa. Nessa mesma sala estavam o Gilvan e um estudante alemão, que foi preso porque fotografou a manifestação com uma máquina amadora.
ABr – Não houve agressão, mas teve pressão psicológica.
Corban – A pressão psicológica é a pior das sensações. Você não sabe onde está nem o que vai acontecer. Também não sabia nada sobre o Gilvan, que todo o tempo estava comigo, e de repente foi tirado de perto de mim, e só depois ficamos no mesmo local. De repente passa tudo na sua cabeça, eu pensava na minha família, nas minhas filhas e rezava. Rezei muito e o tempo todo.
ABr – O que os policiais queriam saber de vocês? Não houve um tratamento diferenciado porque vocês eram de uma empresa pública de comunicação?
Corban – Nós dissemos que éramos de uma empresa pública do Brasil, mas isso não mudou em nada o tratamento. Nossa missão no Egito era transmitir para o Brasil exatamente o que ocorria nas manifestações, detalhes sobre os protestos e como reagiam o governo do presidente egípcio, Hosni Mubarak, e a oposição. Enfim, toda a questão. Mas os policiais queriam saber como transmitiríamos as informações e as imagens, eu disse que era por celular e internet. Também queriam saber o tom das reportagens que fazíamos do Egito.
ABr – A Embaixada do Brasil no Egito ajudou vocês em algum momento?
Corban – O tempo todo o embaixador do Brasil no Egito, Cesario Melantonio Neto, esteve em contato conosco e nos ajudou. Ele nos orientou sobre como deixar o país, também prometeu providenciar o envio do equipamento que foi apreendido pelos policiais egípcios. Mas ele próprio reconheceu que estava com dificuldades, pois o governo Mubarak está todo desmantelado, há um caos administrativo no Egito.
Agencia Brasil