O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu rapidez na decisão do Congresso sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, o país não pode ficar esperando por muito tempo sem uma definição desta questão política. Ele fez a declaração hoje (3) após se reunir por meia hora com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio.
“A tarefa maior, neste instante, é não permitir que essa loucura que o Eduardo Cunha fez ontem tenha prosseguimento. Acho que é preciso decidir isso logo. Decide logo, porque se a gente for esperar passar o Natal, passar fevereiro, passar o carnaval, passar não sei das quantas, qual será o clima político deste país? Qual investidor que vai querer investir aqui no Brasil? Qual o empresário brasileiro que vai querer colocar dinheiro na economia, se o sistema político não tiver pelo menos apaziguado?”, afirmou.
O ex- presidente sugeriu uma aliança dos governadores com Dilma, para não aceitarem a teoria do quanto pior, melhor. Ele informou que já existe um manifesto de governadores do Nordeste em apoio à presidenta. “Acho que o Pezão pode arregimentar muitos governadores para apoiar a presidenta Dilma. Inclusive, ele sugeriu, hoje de manhã, uma reunião com governadores, dentro do Palácio do Planalto, para dizer que impeachment é coisa de gente irresponsável.”
Lula disse que “aprendeu” a admirar Pezão enquanto estava na Presidência da República e quis fazer o encontro para saber como o governador está vendo o atual momento do país. Segundo ele, Eduardo Cunha não deveria colocar um problema pessoal acima dos interesses do país. Ele destacou que presidenta faz “um esforço incomensurável” para conseguir a aprovação dos ajustes necessários, enquanto o presidente a Câmara age ao contrário.
“Tem muitos deputados querendo contribuir, mas o presidente da Câmara, me parece, tomou a decisão de não se preocupar com o Brasil. Me parece que a prioridade dele é se preocupar com ele, quando este país de 210 milhões de habitantes é mais importante do que qualquer um de nós”, ressaltou.
Para Lula, sem as reformas – que na sua avaliação estão demorando demais – a economia não vai voltar a crescer. “O país está, há um ano, passando por uma conturbação. A reforma que já era para ter sido votada está demorando demais, e sem aprovar a reforma a gente não consegue fazer a economia voltar a andar como ela deve andar.”
Ele destacou, ainda, que a decisão de Eduardo Cunha veio justamente no dia em que o governo conseguiu uma vitória no Congresso. “No dia em que a presidenta consegue aprovar as novas bases para o orçamento de 2015, o que a gente percebe é que ela recebe, como prêmio, um gesto de insanidade, com o pedido de impeachment dela. Acho que o Brasil não merece isso. Acho que as pessoas sérias deste país não podem aceitar isso”, destacou.
Na avaliação de Lula, será por um motivo muito pequeno se a decisão do presidente da Câmara para dar andamento ao processo de impeachment tiver relação com uma falta de apoio de parlamentares do PT a ele, no Conselho de Ética. “Se isso estiver na cabeça de Eduardo Cunha é uma atitude muito pequena, subordinar um país inteiro, os interesses de mulheres, homens, brancos, negros e crianças deste país a uma visão corporativa, pessoal, de vingança. Eu quero crer que não seja verdade, porque se isso for verdade é muita leviandade.”
O ex- presidente descartou a possibilidade de Dilma ter feito barganha com Eduardo Cunha para não ter a abertura do processo de impeachment. “Eu conheço a Dilma, e é muito difícil alguém imaginar que a Dilma faz barganhas. É muito difícil”, avaliou.
Lula criticou o tipo de oposição feita pelo PSDB e, ainda, os que que há um ano fazem “oposição sistemática” à presidenta Dilma. Ele disse que é normal ter oposição, lembrou que já fez, no passado, e chegou a dizer que ninguém perdeu mais eleições no Brasil do que ele, acrescentando que se houvesse olimpíada para isso, ganharia medalha de ouro para o país. “Acho que, neste momento, estamos vendo as pessoas tentando ver, na proposta de impeachment do Eduardo Cunha, uma chance de botar a discussão de outubro do ano passado.”