Gato na tuba

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Mauro Bomfim

Há um gato na tuba. Um gato de 10 milhões 500 mil. Escondido no conhecido instrumento de uma orquestra, o gato faz o jogo do rato. Ou das ratazanas de Brasília.

Esse foi o valor garfado dos cofres públicos e destinado pela deputada distrital Eurides Brito, do PMDB e a Orquestra Sinfônica de Brasília. O genro da deputada, por uma dessas “coincidências” que nem uma pureza angelical explica, é nada menos do que o maestro da orquestra, Ira Levin, que fatura 40 mil por mês.

A deputada Eurides Brito é citada na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal e responde processo por quebra de decoro parlamentar por ter destinado emendas orçamentárias para a alegada “sobrevivência” da orquestra sinfônica.

Ocorre que músicos que integram a orquestra alegam nunca viram um tostão sequer para a Associação de Amigos Pró-Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro.

Esse é mais um réquiem do funeral da moralidade, executado pela partitura da indecedência. Mais um ato da ópera bufa em que se transformou a Câmara Distrital de Brasília, onde os personagens são verdadeiros bufões: o servo trapaceiro, o velho avarento, o parlamentar peculatário .

Nesse libreto da safadeza, se realçam os duetos e recitativos de políticos saltitantes no palco da corrupção. O governador desonesto com riso sardônico ao receber a propina do dia. O deputado malandro escondendo nas partes íntimas o resultado da rapinagem com o dinheiro público.

Prelúdio da insensatez. Sonata do mal. Minueto da vergonha. E a ópera bufa tupiniquim vai seguindo em frente, executada pelos maestros da impunidade.

Ao contribuinte, pobre e humilde pagador dos tributos que engordam as burras públicas, resta o papel de bufão, do bobo da corte. Enquanto Dom Bibas divertia os soldados no Castelo de Guimarães para que as tropas do infante Dom Afonso Henriques derrotassem Fernando Peres, o Conde Trava, ao contribuinte brasileiro não é reservado nem mesmo esse papel cômico da obra de Alexandre Herculano.

Somos os bobos da corte brasiliense. Titulados como palhaços em meio ao circo da impunidade. A nova fanfarra da corrupção. Os 10 milhões 500 mil de tubas milionárias. No palco dessas perdidas ilusões, querem nos transformar em palhaços de vestimentas coloridas e chapéus cheios de guizos. Quem colocará o guizo no gato?

MAURO BOMFIM é advogado e jornalista – [email protected]

1 COMENTÁRIO

  1. Este ato é tendencioso e não assume a maioria da vontade dos músicos da OSTNCS. Uma boa forma de observar isso é saber que os que estão dizendo que nunca viram um tostão desta formidável articulação em pró da economia do DF são músicos incomptentes que gostam de samba!! Me remito a que leiam os comentários abaixo, publicados no Correio Braziliense Online.

    Caso não tenha visto, acesse o site com meus comentários originais aqui:

    http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/03/26/cidades,i=182066/ORQUESTRA+SINFONICA+DIZ+QUE+NUNCA+SE+BENEFICIOU+DAS+EMENDAS+DE+EURIDES+BRITO.shtml

    (também respondo às afrontas do pessoal que não gostou do alto nível das minhas respostas, mas percebo que não cabe aqui a reprodução de tais réplicas)

    (a ordem está ao contrário, tal qual na página do Correio – um abraço)

    Autor: Antonio Bayma Jr
    7) Finalmente, podem me chamar de almofadinha, puxa-saco, pedante e prepotente, mas desafio a quem tocar violino melhor do que eu. Do mesmo modo, o salário de 40 mil por mês do maestro Ira Levin é mais do que merecido, desafio a qualquer um reger uma orquestra de músicos tão incompetentes e conseguir sair um som bonito. Só bem pago desse jeito pra fazer este milagre! Viva Eurides! Viva Ira Levin!!

    Autor: Antonio Bayma Jr
    6) Penso que deveríamos nos ater a irregularidades somente, se e quando comprovadas. Porque até agora o que se apontou não é, em si, falha, irregularidade nem suspeita, mas precisamente o que mais alterou o produto dos concertos para melhor: solistas/maestros entre os melhores do mercado.

    Autor: Antonio Bayma Jr
    5) O salário do maestro Levin pago pelo BRB, salvo irregularidades, se constitui não num vício mas numa virtude gerencial da associação, que soube aproveitar o valor publicitário da parte do palco não utilizada em economia que pode ser empenhada em outras despesas;

    Autor: Antonio Bayma Jr
    4) Embora os músicos não recebam nada em seus bolsos da associação, não tenham querido/podido fiscalizá-la, nem esta tenha os convocado para prestar contas ou dar o mais amplo esclarecimento de suas atividades, o resultado desse convênio é bem visível, e está longe de ser desconhecido pelos músicos;

    Autor: Antonio Bayma Jr
    3) Tais valores, tanto de salários dos músicos quanto, principalmente, de verbas para cachês e afins, são muito menores do que os empenhados por orquestras de semelhante porte e qualidade Brasil afora;

    Autor: Antonio Bayma Jr
    2) As emendas orçamentárias de que trata a matéria correspondem entre 2 e 3 milhões anuais, e se prestam a pagar cachês de convidados, músicos, solistas e maestros, transporte de estudantes para o projeto de concertos didáticos, transporte e montagem de palco em concertos fora do teatro, etc;

    Autor: Antonio Bayma Jr
    Na qualidade de músico da OSTNCS, gostaria de esclarecer que: 1) o GDF gasta em torno de 10 milhões por ano com salários de 120 músicos servidores públicos estatutários, entre ativos e aposentados. Isto é bem aquém do que pagam outros governos ou associações para suas orquestras;

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