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Por Carlos I. S Azambuja
Foi Presidente do Brasil entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974. no auge da luta armada. Aos domingos ia ao Maracanã com seu radinho de pilha e, quando anunciada sua presença pelos alto-falantes do estádio, era aplaudido pela multidão. Muito diferente dos governantes de agora, que têm receio de sair às ruas…
Em seu governo o país viveu o chamado “Milagre Brasileiro” ocasião em que ocorreu um crescimento econômico recorde, inflação baixa e projetos desenvolvimentistas. Houve também grandes incentivos fiscais a indústrias e a agricultura foi a área econômica mais pujante do período. No seu governo construiu-se a Usina de Itaipu, a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e outras obras.
Ao fim de seu mandato como Presidente, Médici abandonou a vida pública, sendo sucedido pelo General Ernesto Geisel. Nunca assaltou bancos, nunca trocou dólares roubados ou participou de atos terroristas, e jamais, como a atual presidenta, teve que repetir, para se defender, o bordão: “não tive contas na Suiça”.
Por isso, vale rever o discurso de posse de Médici na Presidência da República:
Homens de meu país. Neste momento eu sou a oferta e a aceitação. Não sou promessa. Quero ser verdade e confiança, ser a coragem, a humildade, a união. Oferta de meu compromisso ao povo, perante o Congresso de seus representantes, quero-a um ato de reverdecimento democrático.
A aceitação da faixa presidencial, faço-a um ato de justiça e a confissão de minhas crenças. Faço a justiça de proclamar o equilíbrio e serena energia, o patriotismo com que se houveram os três ministros militares no exercício temporário da Presidência da República, que a mim transmitem, no símbolo desta faixa, pelas mãos honradas de Sua Excia, o almirante Rademaker. Faço justiça de dizer, já agora ouvindo a Nação, a cuja frente o destino me trouxe, faço a justiça de assinalar a total dedicação do grande presidente Costa e Silva à causa pública, o empenho tanto, que se fez imolação da própria voz.
Venho como sempre fui. Venho do campo, da fronteira, da família, da caserna; venho da minha terra e de meu tempo. Venho do Minuano. Este vento faz pensar no campo, meus amigos, este vento vem de longe, vem do pampa e do céu. Valho-me, ainda uma vez, do poeta augusto do sul, para ver no vento, o homem do campo de todo o Brasil – o homem que ninguém vê, sem face e sem história – aquela humildade mansa, que a vida vai levando na quietação do caminho abraçado à coxilha.
Homem do campo, creio no homem e no campo. E creio que o dever desta hora é a integração do homem do interior ao processo de desenvolvimento nacional.
Homem da fronteira, creio em um mundo sem fronteira entre os homens. Sinto por dentro aquele patriotismo aceso dos fronteiriços, que estende ponte aos vizinhos, mas não aceita injúrias nem desdéns e não se dobra na afirmação do interesse nacional. Creio em um mundo sem fronteiras entre países e homens ricos e pobres. E sinto que poderemos ter um mundo sem fronteiras ideológicas, onde cada povo respeite a forma de outros povos viverem, onde os avanços científicos fiquem na mão de todo homem, na mão de todas as nações, abrindo-se à humanidade a opção de uma sociedade aberta. Fronteiriço, não sei, não vejo, nâo sinto, não aceito outra posição do Brasil no mundo que não seja a posição de altivez.
Homem de família, creio no diálogo entre as gerações e as classes, creio na participação. Creio que a grandeza do Brasil depende muito mais da família do que do Estado, pois a consciência nacional é feita da alma do educador que existe em cada lar. E, porque assim o creio, buscarei fortalecer a unidade familiar, pedra angular da sociedade.
Homem do povo, creio no homem e no povo, como nossa potencialidade maior, e sinto que o desenvolvimento é uma atitude coletiva, que requer a mobilização total da opinião pública. Homem do povo, conheço a sua vocação de liberdade, creio no poder fecundo da liberdade.
Homem da caserna, creio nos milagres da vontade. E, porque creio, convoco a vontade coletiva, a participação de todos que acreditam na compatibilidade da democracia com a luta pelo desenvolvimento, para que ninguém se tenha espectador e todos se sintam agentes do processo.
Homem do meu tempo, tenho pressa.
Homem do meu tempo, creio na mocidade e sinto na alma a responsabilidade perante a História. E, porque o sinto e o creio, é que darei de mim o que puder pela melhor formulação da política de ciência e tecnologia, que acelere a nossa escalada para os altos de uma sociedade tecnológica e humanizada.
Homem da Revolução, eu a tenho incontestável, e creio no ímpeto renovador e inovador de seus ideais. E, porque a tenho assim, é que a espero mais atuante e progressista. É meu propósito libertar o nosso homem de seus tormentos maiores e integrar multidões ao mundo dos homens válidos e, para isso, convoco a universidade, chamo a Igreja, aceno à imprensa e brando ao povo para que me ajude a ajudar o homem a ajudar-se a si mesmo.
Homem da lei e do regulamento, creio no primado do Direito. E, porque homem da lei, pretendo zelar pela ordem jurídica.
Homem de fé, creio nas bênçãos de Deus aos que não têm outros propósitos que não sejam os do trabalho da vida inteira ·, os da justiça e os da compreensão entre os homens.
Creio nos milagres que os homens fazem com as próprias mãos. E nos milagres da vontade coletiva.
Creio na solidariedade da família brasileira.
Creio na alma generosa da mocidade.
Creio na minha terra e no meu povo.
Creio na sustentação que me haverão de dar os soldados como eu. Creio no apressamento do futuro.
Creio da missão de humanidade, de bondade e amor que Deus confiou à minha gente. E, porque creio, e porque o sinto, nos arrepios de minha sensibilidade, é que, neste momento, sou oferta e aceitação. E aceito, neste símbolo do Governo da República, a carga imensa de angústias, de preocupações, de vigílias – a missão histórica que me foi dada.
E a ela me dou, por inteiro, em verdade e confiança, em coragem, humildade e união.
E a ela me dou, com a esperança acesa no coração, que o vento de minha terra e de minha infância, que nunca me mentiu no seu augúrio, está dizendo que Deus não me faltará, está trazendo o cheiro de minha terra e de minha gente.
E com a ajuda de Deus e dos homens, haverei de pôr na mão do povo tudo aquilo em que mais creio.
Agora, no momento em que o país foi transformado em um esgoto, julgo oportuna a publicação do texto para muita reflexão.
Carlos Ilich Santos Azambuja é Historiador.