Rio de Janeiro – Enquanto as atenções e os esforços se voltam para o desastre do Morro do Bumba, em Niterói, onde 43 corpos já foram resgatados, moradores de outra comunidade, bastante afetada pelas chuvas da semana passada, reclamam por ajuda.
Na favela da Grota de Surucucu, localizada nos morros próximos ao elegante bairro de São Francisco, o sentimento da população é de abandono. Apesar da chuva ter provocado 17 mortos na região, que também abrange a Favela da Cachoeira, os moradores dizem que precisaram “se virar” e que pouco foi feito pelo Poder Público.
“A Grota foi esquecida. Eles não entraram aqui. Os moradores é que estão se ajudando”, reclamou a dona de casa Patrícia da Silva. “Eu sei que existem outros lugares onde morreram muita pessoas, como o morro do Bumba, mas aqui a gente precisa de ajuda também”, protestou Rosa Maria Herculano, que teve a casa abalada e corre risco de cair.
O presidente da Associação dos Moradores da Grota de Surucucu, Mauro Correia, disse que os vizinhos têm razão de estar ressentidos, pois a favela foi esquecida pelas autoridades nos dias que se seguiram à enxurrada.
“Nossa comunidade foi uma das menos assistidas. São centenas de pessoas desabrigadas, muitas áreas de risco, pedras que ameaçam rolar e casas desabando. Estamos sem [assistência] e as crianças apresentam doenças. Precisamos trazer uma solução o mais rápido possível”.
Os morros na Grota de Surucucu são bastante íngremes, com enormes rochas aparentes, o que ajudou a agravar a situação dos moradores. O porteiro Igor Pereira Sabino teve a casa completamente destruída por toneladas de lama e pedra. Apesar de ter conseguido se salvar, ele diz que o recomeço vai ser muito difícil.
“Primeiro caiu a casa do vizinho de cima e depois veio tudo abaixo. Perdi tudo. Várias coisas eu estava pagando prestação ainda”.
Igor disse que agora espera a visita da Defesa Civil para conseguir um laudo que permita entrar no aluguel social, programa que dá acesso a uma quantia em dinheiro para que a família se instale em outro imóvel.
O secretário de Segurança e Defesa Civil de Niterói, Marival Gomes, disse que o trabalho de vistoria dos técnicos começou ontem (14) na localidade e deve prosseguir pelos próximos dias.
“Os engenheiros da prefeitura estiveram no local para estudar os processos naquela área. Mas temos responsabilidade com a cidade como um todo. Não podemos pensar simplesmente na Grota de Surucucu. Todos os outros bairros precisam ser atendidos”, justificou o secretário, dizendo que novas visitas devem ser feitas nos próximos dias.
Os cerca de 700 desabrigados da comunidade estão sendo mantidos em igrejas e escolas públicas da própria comunidade, como o Colégio Estadual Duque de Caxias, onde pelo menos 350 pessoas estão alojadas. Mas os líderes locais temem que o fornecimento de comida ali seja cortado, como chegou a ser anunciado pela direção do colégio.
As doações para os moradores podem ser feitas na própria escola, que fica na rua Albino Pereira, 300. Em todo o estado do Rio, segundo a Defesa Civil estadual, o número de mortos chegou hoje a 251, das quais 65% (165) em Niterói.