Serra mais perto de ser indicado candidato do PSDB
Com um só gesto, Serra soldou a fratura entre os tucanos do Estado e isolou Aécio, para quem se tornou um tanto mais difícil convencer o partido de que o candidato a presidente deve ser ele Uma conseqüência inevitável da aglutinação partidária em grandes blocos, comentada recentemente neste espaço (“Bipartidarismo de fato”, 13/01/2009), é que as contendas mais acirradas ocorrem, muitas vezes, quando da definição das candidaturas dentro dos partidos e coligações, e não na campanha eleitoral propriamente dita. O que ocorreu em Sorocaba no ano passado ilustra bem essa situação. De certa forma, a disputa entre os tucanos Vitor Lippi e Renato Amary, com direito a rajadas de “fogo amigo”, foi mais renhida e chamou mais a atenção dos eleitores do que a própria eleição.
Em linhas gerais, isso também aconteceu na cidade de São Paulo, onde o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) se insurgiu contra a possibilidade de seu partido apoiar o prefeito Gilberto Kassab (DEM), como queria o governador José Serra. Alckmin conseguiu que o diretório municipal oficializasse sua candidatura, mas isso não foi suficiente para impedir que muitos tucanos apoiassem Kassab.
O resto da história todos sabem: o ex-governador sequer chegou ao segundo turno, perdendo cacife político e tornando-se um sério candidato ao ostracismo dentro do PSDB paulista.
Essa história teve uma reviravolta, quando Serra anunciou que convidara Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento, em substituição ao vice-governador Alberto Goldman. Este, será preparado para assumir o governo em abril de 2010, quando Serra, por força da legislação eleitoral, terá que se desincompatibilizar para concorrer à vaga do presidente Lula.
A jogada foi vista como um passo importante rumo a Brasília, não só pela unificação do PSDB paulista, mas também porque Alckmin era considerado o principal aliado do governador mineiro Aécio Neves em São Paulo. Com um só gesto, Serra soldou a fratura entre os tucanos do Estado e isolou Aécio, para quem se tornou um tanto mais difícil convencer o partido de que o candidato a presidente deve ser ele.
Aécio sentiu o baque. Num primeiro momento, teria dito a pessoas próximas que Alckmin “se apequenou” ao aceitar o convite de Serra. Refeito do susto, procurou uma saída elegante e evitou o ar de perdedor. Disse que se sentiu “homenageado” com a nomeação do ex-governador paulista.
“Ganham todos com sua nomeação e eu, pessoalmente, como seu amigo e admirador [de
Alckmin], me sinto também homenageado por essa indicação”, foi a frase textual.
Serra e Aécio são duas forças inegáveis no PSDB, e cada qual tem bons motivos para acreditar que deve ser presidente. Impulsiona-os, principalmente, a convicção de que o cenário de 2010 será como certas conjunções de planetas, que só se repetem a longos intervalos: o PT talvez não consiga se beneficiar da popularidade de Lula, pela ausência de nomes fortes e com identificação popular. Por outro lado, quem não emplacar em 2010 talvez tenha que enfrentar o próprio Lula em 2014, ou, se vingar a proposta de um mandato único de cinco anos, em 2015.
Aécio tem a seu favor, além do segundo maior colégio eleitoral do Brasil, o fato de não ser de São Paulo – o que, para alguns observadores, é um apelo suficientemente forte entre os eleitores de outros Estados. Mesmo assim, o governador de Minas é visto como o lado fraco da corda numa eventual disputa com Serra, que tem ao seu lado o DEM e a parte do PMDB que se alinha com Orestes Quércia. A equação do governador paulista não exclui nem mesmo o presidente Lula, com quem Serra tem trocado gentilezas ultimamente.
A contar pelo episódio Alckmin, a estratégia de Serra é esvaziar a pré-candidatura de Aécio o mais brevemente possível, e evitar um confronto que pode ser desgastante pessoal e politicamente. Começou bem.
Fonte Jornal: Cruzeiro do Sul