Nove pessoas foram presas hoje, na Operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, entre elas os doleiros Chaim Enoch Zalgberg, Antônio Wanis Filho e Eliezer Lewin e os empresários Vittorio Tedeschi, Ettore Reginaldo Tedeschi e Altineu Pires Coutinho. Ao todo, são 21 os integrantes de duas quadrilhas que estavam sob investigação desde 2005.
Naquele ano, a Operação Roupa Suja detectou fraudes em licitações e corrupção entre empresas e órgãos oficiais, inclusive na importação de insumos para o coquetel anti-HIV do Ministério da Saúde. Foram cumpridos também hoje (13) mandados de busca e apreensão no Rio e em São Paulo.
Segundo o Ministério Público Federal, a ocultação e a lavagem de patrimônio ilícito alcançaram dezenas de milhões de dólares. A engenharia financeira para esconder o dinheiro foi concebida e executada pelos escritórios dos doleiros Chaim Henoch Zalcberg, Antônio Wanis Filho, Rosane Messer e Dario Messer, com o uso de contas na Suíça e nos Estados Unidos.
O chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, Luís Eduardo Castro, e os procuradores da República Carlos Alberto Aguiar e José Augusto Vagos, responsáveis pelas investigações, explicaram nesta tarde como foi a operação. Segundo eles, em 2005, a Operação Roupa Suja investigou crimes de fraude em licitações e corrupção, envolvendo os empresários presos agora e mais um grupo de pessoas que participaram dos acertos das licitações fraudadas.
“Até laboratórios farmacêuticos indianos e chineses foram citados como fornecedores de insumos até 7.000% acima do preço para o coquetel anti-aids distribuídos pela Saúde”, afirmaram.
Dois dos presos hoje, Vittorio Tedeschi, indiciado nessa compra superfaturada, e Altineu Coutinho, envolvido nas licitações irregulares para lavagem de roupa hospitalar, recorriam em liberdade da condenação a 14 anos. “Mesmo condenados, eles continuaram a praticar os crimes de licitação fraudulenta e corrupção”, disse Aguiar. Desta vez, porém, a Justiça decretou a prisão preventiva dos dois, assim como de outros reincidentes.
Dos 12 mandados de prisão expedidos pela 4ª Vara Federal do Rio de Janeiro, não foram cumpridos três: os de Arnaldo Haft e Fabrício de Oliveira Silva, que a polícia suspeita serem laranjas, e o de Dario Messer, que está fora do país, mas deve se apresentar porque sua mulher, Rosane, está entre os nove presos.
“Gastamos quatro anos para chegar até aqui, porque detectamos o crime na Operação Roupa Suja e partimos para a investigação sobre o dinheiro desviado”, disse Aguiar. O procurador Luís Eduardo de Castro foi além: “Enviamos 129 pedidos de informações bancárias aqui e no exterior e só no ano passado chegaram as dos Estados Unidos. Até agora, a Suíça não colaborou, mas vamos tentar a repatriação do dinheiro, que está em vários lugares.”
Apenas hoje, a Polícia Federal apreendeu R$ 250 mil (R$ 200 mil na casa de Vittorio Tedeschi), US$ 17 mil, um montante indeterminado de dinheiro em outras moedas e quatro armas de baixo calibre. Os procuradores estimam em US$ 20 milhões o total guardado em aproximadamente 20 contas bancárias abertas nos Estados Unidos.
“A quebra do sigilo bancário dos investigados no Estados Unidos foi fundamental, mas ainda há muito a ser buscado. Quando houve a Operação Roupa Suja, eles já movimentavam dinheiro nessas contas havia pelo menos 10 anos. Quer dizer, há 14 anos, esse esquema funciona”, informou Castro.
Os procuradores justificaram os quatro anos de trabalho com o fato de mais de 20 empresas de fachada, muitas fechadas, outras em franca atividade, constarem das investigações, todas com nomes de laranjas e em paraísos fiscais, como as Bahamas.
As duas quadrilhas investigadas, conforme a polícia, agiam sem ligação aparente, em dois modelos de ação diferentes: dólar-cabo, no qual a remessa e a transferência de volta dos dólares era feita clandestinamente, e o modelo das empresas de fachada, cujos sócios e diretores escondiam a verdadeira propriedade dos empresários presos hoje.