Aproveitando a Semana Santa, o presidente de Venezuela Hugo Chávez decretou três dias de feriado a partir da próxima segunda-feira como medida para economizar eletricidade em meio à crise energética que afeta o país.
“Vem a Semana Santa e decretamos feriado segunda, terça e quarta. Toda a Semana Santa será feriado”, afirmou Chávez, nesta quarta-feira, durante um ato com esportistas no Palácio de governo.
“O objetivo não é a preguiça e sim economizar energia”, acrescentou.
Na Venezuela, as quintas-feiras e sextas-feiras da Semana Santa são feriados.
Racionamento
O decreto que determina o feriado prolongado acompanha uma série de medidas adotadas pelo governo nos últimos meses para amenizar a crise, provocada pela mais severa estiagem enfrentada nos últimos quarenta anos.
Chávez, que diz acompanhar diariamente os dados sobre o nível das represas no país, voltou a pedir economia de água e luz à população. ” É preciso economizar energia. Ninguém esqueça de apagar a luz e fechar a torneira”, disse o presidente venezuelano.
Em fevereiro, Chávez decretou estado de emergência elétrica em todo o país e instituiu um plano de racionamento de energia que exige a economia de pelo menos 20% no consumo doméstico e industrial.
Aqueles consumidores residenciais que optarem por não economizar, terão de pagar até três vezes mais pela eletricidade. No caso da indústria e comércio, o gasto excessivo pode acarretar sanções. Esse foi o caso de 80 estabelecimentos comerciais, que ficaram sem luz, durante 24 horas, na segunda-feira por não terem economizado energia no último mês.
Se houver reincidência, esses estabelecimentos comerciais podem ser penalizados com a suspensão do serviço por 72 horas, que pode ser seguida de um apagão “até quando durar a emergência elétrica”, afirmou no fim de semana o vice-presidente, Elias Jaua.
“Esperamos que com os cortes, (os comerciantes) passem a contribuir”, afirmou o vice-presidente venezuelano.
Demanda maior
Apesar da crise, o governo afirma que o sistema elétrico não colapsará, ao mesmo tempo que não descarta um aumento no racionamento de eletricidade.
Na terça-feira, o ministro de Eletricidade, Alí Rodriguez Araque, pediu que todos os diretores e funcionários das empresas que pertencem à estatal energética Corpoelec renunciem, argumentando que os cargos serão “reorientados”.
A Federação de Indústria e Comércio, que argumenta ter tido sua produção afetada com a crise, ainda não opinou sobre a nova medida governamental.
O governo venezuelano atribui a atual crise ao fenômeno climático El Niño e ao desperdício de energia dos consumidores, ao mesmo tempo em que responsabiliza os governos anteriores por terem criado um sistema energético dependente de hidrelétricas.
A represa que abastece a hidrelétrica do El Guri, responsável por 70% da geração de energia do país, perde diariamente 14 centímetros de água.
O argumento oficial, no entanto, não convence os opositores, que argumentam que durante a década da administração Chávez não houve investimentos no setor para instalação de fontes alternativas de eletricidade.
A demanda de eletricidade no país supera em cerca de mil megawatts a geração diária de energia, estimada em 16,2 mil MW, segundo dados oficiais.
A crise energética, acompanhada da escassez de água, ocorre em um ano considerado decisivo no campo político, quando os venezuelanos irão às urnas definir a nova composição do Parlamento, hoje controlado por maioria chavista.
Fonte: Claudia Jardim – de Caracas para a BBC Brasil