A professora de ensino médio Fanta Oulen Camara passou duas semanas em março lutando por sua vida contra o vírus Ebola, mas os dias mais difíceis vieram quando ela se curou da doença e voltou para casa, em Guiné.
“A maioria dos meus amigos parou de me visitar. Eles não falam comigo, eles me evitam”, disse a professora, de 24 anos. “Eu não tinha mais permissão para dar aula.”
O pior surto de Ebola já registrado matou 5.000 pessoas no oeste da África, principalmente na Guiné e nas vizinhas Libéria e Serra Leoa. Mas outros milhares sobreviveram, e agora sofrem com o isolamento em sociedades temerosas com a doença.
Frente a tal estigmatização, sobreviventes do Ebola como Fanta estão se filiando a uma associação em Guiné que dá assistência a um crescente número de pessoas que se recuperam e busca maneiras para que elas ajudem a combater a doença.
Acredita-se que sobreviventes tenham imunidade ao Ebola graças a anticorpos em seu sangue, o que os torna uma arma poderosa na luta contra o vírus.
A falta de trabalhadores de saúde significa que os frágeis governos do oeste da África estão perdendo a batalha para conter o Ebola, apesar das promessas internacionais de milhões de dólares em ajuda.
O vírus se propaga por fluídos corporais das vítimas, que sangram, vomitam e sofrem de diarréia no estágio final. Para lidar com pacientes nesse estágio, é necessário utilizar equipamento protetor para evitar contágio – mas os sobreviventes não precisam passar por isso.
Fanta, que perdeu seis membros de sua família para o Ebola, trabalha com a ONG Médicos Sem Fronteiras em uma clínica na capital de Guiné, Conacri.
“Compartilhamos nossa própria experiência com essas pessoas, explicando que estávamos doentes, mas agora fomos curadas”, disse Camara. “Damos esperança a eles.”
Na Libéria e em Serra Leoa, sobreviventes também estão se voluntariando para trabalhar em unidades de tratamento para o Ebola, para cuidar de crianças órfãs por causa da doença e para fornecer conselhos às vítimas, em uma tentativa de combater o tabu que cerca a doença.
Há esperança, inclusive, de que o sangue dos sobreviventes também possa ser utilizado como soro para tratar a doença. Na Libéria, há planos para armazenar o sangue de sobreviventes e a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que o tratamento pode começar já em dezembro.
Para o médico Oulare Bakary, que criou a associação dos sobreviventes três meses após ele mesmo ter vencido o Ebola, pessoas que se recuperam têm um papel a desempenhar na desmistificação de um vírus que causou, até mesmo, episódios de violência.
“Todo mundo tem enfrentado estigma e rejeição”, disse ele. “Precisávamos enviar uma mensagem para as pessoas sobre a epidemia e também sobre a possibilidade de cura.”
Agência Reuters.