O empresário Mauricio Macri prestou juramento no Congresso da Argentina nesta quinta-feira (10) como novo presidente do país. Após o juramento e um discurso, Macri seguiu para a Casa Rosada para receber a faixa e um bastão presidencial do líder do Senado. A cerimônia de posse não conta com a presença da presidente Cristina Kirchner.
No discurso de posse, Macri prometeu a:
- Promover a justiça social
- Incentivar a educação
- Combater o narcotráfico e a corrupção
- Promover a unidade nacional
Como estava previsto em sua agenda, a presidente Dilma Rousseff, que chegou durante o evento no Congresso argentino, irá participar apenas da entrega da faixa na Casa Rosada.
Partidários de Mauricio Macri se concentraram na frente do Congresso. Os presidentes Rafael Correa (Equador), Juan Manuel Santos (Colômbia), Michelle Bachelet Chile e Evo Morales (Bolívia) também participam da cerimônia.
Durante o discurso de posse, Macri fez uma insinuação sutil com relação a sua antecessora, que durante a administração enfrentou acusações de ter alterado índices de pobreza, desemprego e inflação.
“A política não é um cenário para que alguns líderes mintam para enganar as pessoas com números falsos”, declarou. “Esconder e mentir sobre nossa realidade é uma prática que nos fez muito dano”, complementou em um outro momento.
Sobre a liberdade da justiça, ele defendeu a celeridade nos julgamentos e pediu isenção aos magistrados. “Justiça tardia não é justiça. No nosso governo não haverá juízes ‘macristas’. Não pode haver juízes militantes de um partido”, afirmou.
Macri também fez um apelo pela unidade nacional. “As confrontações nos levaram para caminhos errados. O fanatismo muitas vezes nos arrasta para a violência e nos leva à falta de amor. Temos que afastar o enfrentamento e colocar nesse lugar o encontro, o desenvolvimento. Na luta irracional ninguém ganha.”
Aos países vizinhos e as outras nações, o presidente eleito declarou esperar colaboração. “Queremos unidade e cooperação da América Latina e do mundo”, afirmou.
O empresário de 56 anos eleito em novembro participou de um cortejo até o Congresso, onde chegou por volta de 12h30. A cerimônia de posse começou poucos minutos depois. “Hoje se cumpre um sonho”, afirmou Macri no início do discurso.
Pouco antes, ele e a vice-presidente, Gabriela Michetti, fizeram o juramento. “Eu, Mauricio Macri, juro por Deus, nosso Senhor e os Santos Evangelhos, desempenhar com lealdade e honestidade o cargo de presidente da nação, e observar e fazer observar com fidelidade a Constituição da Nação argentina. Se eu não o fizer, que Deus e a pátria me processem”, disse Macri.
Prefeito da capital Buenos Aires durante oito anos, Macri jurou o cargo perante a Assembleia Legislativa, reunião das duas Câmaras do Congresso, como estabelece a Constituição. Ele chegou ao Congresso acompanhado pela terceira esposa, Juliana Awada, e pela filha de ambos, Antonia, de 4 anos.
Candidato da centro-direita, ele foi eleito com a promessa de reativar uma economia que sofre com a falta de investimentos e uma inflação elevada, após 12 anos de regime peronista de centro-esquerda.
Macri precisará realizar ajustes na terceira maior economia da América Latina, mas tendo cuidado para não afetar as conquistas sociais alcançadas na última década.
Se acertar, o investimento poderia retornar ao país, graças ao cinturão de grãos nos Pampas, um promissor setor de tecnologia, a força de trabalho altamente qualificada e algumas das maiores reservas de óleo de xisto no mundo.
Primeira governadora
Mais cedo, María Eugenia Vidal assumiu como a primeira mulher governadora da província de Buenos Aires, distrito chave da Argentina, cuja vitória nas eleições foi um apoio vital para que Mauricio Macri chegasse à presidência.
“Recebemos esta província quebrada, deficitária e cheia de dívidas”, disse a governadora de 42 anos, uma cientista política mãe de três filhos, após prestar juramento.
Vidal recebeu os atributos de comando do governador em fim de mandato, Daniel Scioli, o candidato presidencial da ex-presidente Cristina Kirchner.
“A província que diziam que só podia ser governada por homens pela primeira vez será governada por uma mulher”, disse Vidal diante da Assembleia Legislativa ao afirmar que governará para todos.
Apoiadores do presidente argentino eleito Mauricio Macri aguardam a cerimônia de posse em frente ao Congresso, em Buenos Aires. A eleição de Macri marca o início de uma nova era para a Argentina após 12 anos sob governo do casal Kirchner (Foto: Maria Eugenia Cerutti/AP)
Ausência de Cristina
Cristina Kirchner já tinha anunciado, por meio de um porta-voz, que não assistiria à cerimônia. A decisão foi motivada por causa de uma determinação judicial que antecipou o fim do mandato dela para meia-noite de quarta-feira (9).
Foi Macri quem entrou na justiça para pedir essa antecipação, o que irritou Cristina. A disputa começou quando Macri pediu em uma ligação telefônica a Kirchner que o bastão de comando e a faixa presidencial fossem entregues na Casa Rosada (sede governamental) e não no Congresso, onde prestará juramento. Kirchner disse que na ligação Macri lhe faltou o respeito como mulher.
Cristina queria passar as funções presidenciais a Macri no Congresso, onde a esquerdista Frente para a Vitória, de Cristina, detém a maioria dos assentos.
Administração Kirchner
O empresário de 56 anos, que comandará a Casa Rosada pelos próximos quatros anos, derrotou nas urnas o candidato apoiado pela presidente Cristina Kirchner, Daniel Scioli, e colocou fim a 12 anos de mandato.
A administração Kirchner começou em 2003 com o mandato do falecido marido de Cristina, Néstor Kirchner, no desfecho de uma severa crise econômica. Prosseguiu com a eleição da então primeira-dama em 2007 – a primeira mulher eleita na Argentina – e sua reeleição em 2011.
Durante seu primeiro mandato, Cristina tinha Néstor como seu principal aliado e conselheiro. O ex-presidente morreu em outubro de 2010 vítima de um ataque cardíaco. Apesar das insistentes recomendações médicas para que reduzisse o nível de tensão após duas intervenções coronárias, Néstor Kirchner mantinha um intenso ritmo de vida e sempre negava os rumores sobre seu precário estado de saúde.