Fritzl admite estupro e incesto, nega assassinato e culpa relação com a mãe.
Julgamento do acusado de ter filhos com a própria filha começa na Áustria.
Ele negou que tenha provocado à morte de um de seus ‘filhos-netos’.
O austríaco Josef Fritzl, acusado de sequestrar, estuprar e ter sete filhos com sua própria filha, declarou-se nesta segunda-feira (16) culpada de estupro, incesto e sequestro, mas negou em juízo a acusação de homicídio de um de seus “filhos-netos”.
Fritzl, de 73 anos, também afirmou perante o tribunal que não é culpado da
acusação de “escravidão”.
Falando ao tribunal no seu primeiro dia de julgamento, ele relembrou sua difícil infância, quando teria sido maltratado pela mãe.
O julgamento do austríaco ocorre em Sankt Poelten, a 60 km ao oeste de Viena. Usando um casaco cinza, ele entrou no tribunal ladeado por seis policiais e segurando uma pasta azul em ambas as mãos para evitar que seu rosto fosse fotografado.
Josef Fritz, acusado pelos crimes de Amstetten, esconde o rosto atrás de pasta ao chegar ao tribunal nesta segunda-feira (16).
Três juízes e oito jurados decidirão sobre a culpa ou inocência de Fritzl, acusado de incesto, escravidão, sequestro, estupro e assassinato. O veredicto deve ser conhecido até o fim da semana.
Fritlz é acusado de ter mantido sua filha Elisabeth em cárcere privado pela maior parte da vida dela em um porão da cidade de Amstetten e de ter tido sete filhos com ela. O caso veio à tona em abril do ano passado. Três das crianças jamais haviam visto a luz do sol.
O acusado se disse “parcialmente” culpado de estupro – o que significa que ele está contestando os termos da acusação — e privação de liberdade. Ele afirmou ser inteiramente culpado de privar a liberdade das crianças isoladas no subsolo.
Ele permaneceu em silêncio e imóvel, ignorando questões de equipes de TV antes que o juiz e o júri entrassem e as câmeras fossem retiradas do recinto.
Depois, trêmulo e com a voz embargada, Fritzl contou que foi várias vezes agredido pela mãe durante sua “duríssima infância” e que não tinha amigos.
“Minha mãe nunca me amou. Ela já tinha 42 anos (quando nasci). Ela me maltratava”, falou o aposentado enquanto expunha à juíza Andréa Humer sua condição de filho indesejado.
O réu também contou que, aos 12 anos de idade, começou a se defender das agressões da mãe: “A partir desse momento virei um demônio para ela”.
A mãe de Fritzl morreu após ficar trancafiada durante anos no piso superior de sua casa, cujas janelas o aposentado tapou para que ela não pudesse ver a luz do sol.
A relação do réu com a mãe veio à tona depois que parte de seu histórico psiquiátrico vazou a imprensa marrom da Áustria.
Durante o tratamento psiquiátrico, Fritzl confessou que tinha medo da mãe mais do que qualquer outra coisa e que a odiava por chamá-lo de “satã, inútil e criminoso” e porque ela o proibia de praticar esportes e ter amigos.
O tratamento ressaltou a falta de piedade de Fritzl para com o sofrimento alheio e o uso das pessoas à sua volta em benefício próprio, algo decorrente da falta de carinho durante a infância.
Apesar de tais distorções em sua personalidade, os peritos estabeleceram que o réu está em pleno uso de suas faculdades mentais e pode ser julgado.
O advogado de Fritzl argumentou que a acusação de escravidão era inapropriada e que ele contestaria a acusação mais grave, de assassinato.
A acusação diz que Fritzl é responsável pela morte de um gêmeo pouco depois de seu nascimento no porão, em 1996. Ela classifica o ato como um assassinato por negligência porque Fritzl não buscou ajuda para o bebê, cujo corpo foi queimado em um forno.
Fritzl construiu o porão, à prova de som e com uma porta reforçada, sob sua casa, na cidade de Amstetten.
Se for considerado culpado de assassinato pelo júri em St. Poelten, perto de Viena, ele pode pegar pena de prisão perpétua ou de 10 a 15 anos de prisão. Seu advogado diz que Fritzl não é um “monstro sexual”, mas espera passar o resto da vida atrás das grades.
A filha de Fritzl e os seis filhos que ela teve com o pai, três dos quais encarcerados desde o nascimento, vivem agora em um local secreto sob nova identidade.
As vítimas não comparecerão pessoalmente ao tribunal. O depoimento da principal delas, Elisabeth, a filha de Fritzl que hoje tem 42 anos, foi filmado, e às 11 horas de vídeo serão exibidas por partes ao tribunal nos próximos dias.
Durante o julgamento, Elisabeth e os seis filhos, que não querem enfrentar a curiosidade da imprensa, voltaram para a clínica psiquiátrica onde a família morou até o fim de 2008.
Fonte: G1
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