O grande número de brasileiros na Argentina transformou o real em moeda corrente nos principais pontos turísticos do país e, especialmente, na capital, Buenos Aires. Empresas de táxi, lojas no Aeroporto Internacional de Ezeiza, restaurantes, cafés, perfumarias, camelôs e casas de tango aceitam a moeda brasileira. Segundo dados do governo da cidade de Buenos Aires, os brasileiros lideraram o ranking de turistas que visitaram a cidade em 2010 e nos primeiros quatro meses deste ano. Nas casas de câmbio da turística Rua Florida é comum ver filas de comerciantes trocando reais por dólares ou pesos. Em algumas lojas vê-se um aviso na entrada: “Neste estabelecimento falamos português”. É possível comer, assistir aos espetáculos e comprar lembrancinhas com reais no bolso. Cada comerciante oferece a sua própria cotação, que pode variar entre 2,40 a 2,50 pesos por real, preço semelhante ao das casas de câmbio.As paulistas Sueli Mazer, de 58 anos, e Ana Paula Silva, de 28 anos, disseram que compram “de tudo” com reais em Buenos Aires. “Compramos roupas, xampú, presentes. Tudo com reais”, disse Sueli. Mas elas fazem uma ressalva. “É preciso apenas ficar atento ao valor que nos oferecem pela nossa moeda. Às vezes, pode não valer a pena.” Na loja Dodo, uma rede de produtos de beleza, no calçadão da Rua Florida, há um aviso na vitrine: “Aceitamos reais”. Na loja, as vendedoras María Joana, de 23 anos, e Juliana Martins, de 24 anos, disseram que a presença de clientes brasileiros é crescente. “Trabalho aqui há três anos, mas só recentemente a loja passou a aceitar reais. É que são tantos brasileiros que assim as vendas ficaram ainda mais fáceis”, disse María Joana. O artesão Darío Ruben, de 31 anos, disse que está até poupando em reais para viajar de férias com a mulher para o Rio de Janeiro. “Só aceito real, euro, dólar e peso argentino. Neste ano já poupei R$ 1,4 mil com o que recebi dos brasileiros”, disse. A estudante mineira Thaissa Fernandes, de 22 anos, oferece shows de tangos para brasileiros a partir de R$ 120. O pagamento também é feito na moeda brasileira. A promotora da agência Magic Travel, na mesma Rua Florida, ergue um cartaz oferecendo shows e city tours (passeios guiados pela cidade). “Eu ganho comissão, mas, graças a esta imensa presença de brasileiros, ganho muito mais aqui do que ganhava no Brasil. Aqui ganho 4 mil pesos por mês e, em Minas, como estagiária, recebia 300 reais”, disse. No Aeroporto de Ezeiza, pelo menos uma das empresas de táxis, a Vip Car, aceita pagamento em reais. Entre os cafés e restaurantes, a lista é ampla. Casos, por exemplo, dos restaurantes La Dorita, nos bairros da Recoleta e Palermo, e Chiquilín, no centro. “O real está valorizado e muitos turistas brasileiros chegam aqui com a moeda no bolso. Então, pra gente vale a pena. Depois, trocamos ou guardamos”, disse Santiago Bustamante, gerente do Chiquilín. Mas, fora do circuito turístico, a moeda brasileira não tem aceitação. Os paulistas Vinícius Martins e Dagmar Pedroso, de 31, disseram que nada puderam comprar com reais no bairro do Onze, conhecido pela ampla concentração de lojas e preços de atacado. A cabeleirera María Romero, dona do salão Estúdio Recoleta, disse que recebe dezenas de clientes brasileiros por semana. Mas ela não aceita reais. “Mesmo assim, muitos fazem cabelos e unhas e, principalmente, compram xampú. E pagam com dólares”, disse.
Agência Brasil