O Egito declarou estado de alerta neste sábado (10) e convocou uma reunião de emergência por causa dos protestos nas ruas do Cairo e de confrontos na embaixada de Israel na cidade, ocorridos ontem e ao longo desta madrugada – episódio já visto como uma “ameaça à paz” regional.
As forças de segurança egípcias enfrentaram os manifestantes com bombas de gás lacrimogênio e com veículos blindados. Em reação, foram alvejadas com pedras e bombas caseiras. Estima-se que mais de mil pessoas tenham ficado feridas e, segundo o Ministério da Saúde, três pessoas morreram – uma delas de ataque cardíaco.
Após as preces de sexta-feira, os manifestantes invadiram o prédio da embaixada israelense no Cairo, entraram nos escritórios consulares e, segundo autoridades, destruíram documentos.
O embaixador israelense abandonou o Egito na madrugada deste sábado e, horas depois, todos os funcionários da embaixada e seus familiares – cerca de 80 pessoas – foram evacuados do local.
Uma autoridade sênior de Israel disse à BBC que o ataque à representação diplomática no Egito foi uma séria ameaça às relações entre os dois países – um dos pontos de equilíbrio para a paz no Oriente Médio.
Observadores dizem que o incidente marca um agudo escalonamento nas tensões bilaterais e testam os 30 anos do tratado de paz entre Israel e Egito.
Sob o regime de Hosni Mubarak, os laços entre os dois países haviam sido estáveis, após anos de conflitos. Mas, agora que o ex-presidente foi deposto, Israel teme que um governo menos favorável seja implementado no Cairo.
Neste sábado, o Conselho Militar que governa o Egito interinamente fará uma reunião extraordinária para discutir o episódio.
A embaixada era alvo de protestos desde a morte de cinco policiais egípcios, no dia 18 de agosto, supostamente em uma ação das forças israelenses.
Autoridades egípcias dizem que eles foram mortos quando as forças de segurança de Israel perseguiram supostos militantes ao longo da fronteira.
No mesmo dia, atiradores haviam atacado ônibus civis israelenses perto do resort israelense de Eilat, localizado no mar Vermelho, matando oito pessoas.
Centenas de egípcios protestaram em frente ao prédio da embaixada de Israel na noite seguinte, queimando uma bandeira do país e exigindo a expulsão do embaixador.
Depois do incidente registrado no mês passado na fronteira, Cairo definiu a morte dos policiais como “inaceitável”. Israel não admitiu a responsabilidade no caso, mas lamentou as mortes. As tensões vêm crescendo desde então.
O ministro de Defesa de Israel disse ter ordenado um inquérito em conjunto com o Exército egípcio.
Ao longo da madrugada e manhã deste sábado, centenas de manifestantes se mantiveram nos arredores da embaixada no Cairo, queimando pneus pelas ruas e cantando slogans de crítica aos militares no poder no Egito.
Seis funcionários da representação diplomática ficaram presos no prédio durante os protestos e precisaram ser resgatados por forças de seguranças egípcias, disse uma autoridade israelense à BBC. A mesma autoridade diz que os protestos estão sendo vistos em Jerusalém como uma “grave violação” das relações diplomáticas.
O Egito é um dos dois países árabes – junto com a Jordânia – a ter estabelecido a paz com Israel. Mas crescem as demonstrações de sentimento anti-israelense entre os civis egípcios.
Um dos manifestantes egípcios na embaixada disse à BBC que “fomos criados odiando Israel, mas agora podemos expressar isso livremente. Com a queda de Mubarak, o sangue egípcio será vingado”.
Agência Brasil