Há muitas maneiras de escrever um bom texto. Com frases mais longas e elaboradas. Com frases curtas e diretas. Com estilo mais rebuscado e explicativo. Ou indo direto ao assunto, e deixando o leitor tomar suas próprias conclusões. Há quem prefira usar mais vírgulas, para o bem ou para o mal, e há quem prefira salpicar pontos. Mas seja qual for a escolha, há um fator indispensável para qualquer grande texto: conhecer as palavras.
Parece óbvio – e talvez seja – mas muitas vezes um autor peca por escolher um termo que é bom, mas não é ótimo. Há sutilezas de significado entre palavras parecidas, que só se percebe quando se identifica com precisão as diferenças entre elas. Para atingir essa maturidade, a leitura costuma ser a melhor ferramenta. Mas eis que surge um desafio adicional – as expressões em língua estrangeira, especialmente em inglês.
Por questões que não vale a pena debater aqui, o português brasileiro é muito influenciado por palavras advindas do inglês. Esse processo de empréstimo de vocábulos é natural, mas potencialmente perigoso para um escritor. Porque é fácil usar um termo da moda, sem saber exatamente sua origem. E aí o texto pode ficar bom. Mas não vai ficar ótimo.
Então, segue aqui algumas explicações que podem ser úteis.
Termos incorporados
Algumas expressões inglesas são usadas em português, porque não foi criada uma versão nacional para elas. É o caso de VIP, sigla em inglês que significa Very Important Person. Ou Air bag, que não encontrou uma tradução adequada em nossa língua. Já o termo UFO (Unidentified Flying Object) ganhou a versão brasileira OVNI.
Uma curiosidade é o termo Blackjack, nome do jogo de cartas famoso nos cassinos virtuais. Ele remete a qualquer valete preto (um black jack). Antigamente, quando o black jack aparecia, valia um prêmio extra. A promoção ficou no século 19, e hoje essa carta só faz sucesso se acompanhado de um ás — uma das cartas mais icônicas do baralho. Mas o nome permanece, inclusive em português.
Termos derivados
Algumas palavras da língua portuguesa vêm do inglês, mas você talvez nem saiba. Há dois casos clássicos, ambos ligados a histórias da Segunda Guerra. Em 1943, o Brasil permitiu que os Estados Unidos tivessem uma base em Natal, no Rio Grande do Norte, para apoiar os aliados durante a guerra. Isso trouxe um grande contingente de americanos para a cidade.
Eventualmente havia festas para entreter os soldados nas horas de folga. Os bailes elegantes eram reservados aos oficiais de alta patente. Mas os pracinhas gringos podiam ir em outras festas que eram for all (para todos). Daí surgiu o termo forró, que até hoje designa um bailão animado com música nordestina. E esses soldados, depois de dançarem a noite toda, tiravam suas botas e, assim, estavam shoe less (sem sapatos). O que deu origem a expressão que indica mau cheiro proveniente dos pés – o famoso chulé.
Termos nacionalizados
Diversas palavras entraram no vocabulário português a partir de suas homólogas inglesas. É o caso de sandwich, hamburger e drink – que podem ser escritas sanduíche, hambúrguer e drinque. As boas práticas dizem que nesses casos se deve preferir a versão em português. Mas, francamente, a maioria dos autores não costuma seguir essa regra.
Outras palavras entraram na língua brasileira por puro modismo, como nerd, crush, cringe e podem – talvez – acabar incorporadas como outlet, hobby ou fitness, três exemplos que têm versões nacionais menos preferidas (ponto de venda, passatempo e forma física). Ou podem ir embora em uma geração, como outros termos já foram. Do ponto de vista da produção de texto, é melhor usar com parcimônia.
Termos marretados
Por fim, vale a pena evitar alguns termos que surgem quando alguém pega a palavra em inglês e começa a usá-la como verbo, esquecendo que existem ótimas opções milenares em português. Um bom exemplo é stalkear, uma palavra absolutamente desnecessária quando se tem o verbo perseguir à disposição. Ou seguir, acossar, caçar, culatrear, dependendo da sutileza do texto. Mais um exemplo: performar, uma corruptela do perform inglês que pode ser substituído sem receio por desempenhar, exercer, cumprir, executar… Há várias opções e, por isso, nenhum motivo para usar o anglicismo. A não ser que se queira parecer mais culto. Nesse caso, sinto dizer, o efeito será exatamente o contrário.
Ótimo texto Aldair, parabéns.