“Seja bem vindo à República Manhuassu” e conheça sua realidade!

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Está escrito na placa à margem da BR 262, no trecho entre Manhuaçu e Reduto (perto do caminho do lixão): “Seja bem vindo à República Manhuassu”.  Não se discute aqui a grafia, mesmo que incorreta, mas o objetivo da “inscrição”. Quando se vê pela primeira vez entende-se que um maluco havia colocado aquilo lá, agredindo a pauladas a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), mas sem que soubesse o tamanho de sua idiotice. Não há notícia de que dentro do território do Brasil exista outra República, outro Estado. Agora, todavia, dá para se entender  que se trata de uma “inscrição” que resume a situação do município.  Esta “república” ostenta índices alarmantes de qualidade de vida de sua população.

A ECONOMIA É FORTE – O PIB É ALTO.

A “república” detém o maior PIB (Produto Interno Bruto) quando comparado a municípios mineiros próximos, semelhantes ou até com populações maiores. O PIB 2013, da “republica”, segundo dados do IBGE (oficiais) foi de R$ 1.480.329.000. Isto mesmo, a soma de todos os produtos finais e serviços finais, em 2013 deu quase um bilhão e meio de reais, para uma população estimada em 84.934 habitantes, dando um PIB per capta (renda anual média por pessoa) de R$ 18.382,33. O vizinho município de Caratinga, no mesmo período, obteve um PIB de R$ 1.039.209.000, um bilhão e pouco, para uma população de 89.578 habitantes, dando um PIB per capta só de R$ 12.110,44. Viçosa, no mesmo período obteve PIB de R$ 819.285.000 (pouco mais da metade da “república”) para uma população de 76.147 habitantes e conseqüente PIB per capta de R$ 11.256,07, enquanto Muriaé obteve um PIB de 1.175.902.000, só um bilhão e pouco para uma população de 105.861 habitantes (bem maior que a da “república”) e um PIB per capta de R$ 11.593,12 (bem menor que a da “república”).

Até aqui parece mesmo que a “república” vai bem, pois tem uma economia pujante, uma renda per capta até boa. Está em vantagem sobre todos estes outros municípios comparados, mas quando se chega ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) a coisa se complica e muito.

O POVO ESTÁ FRACO – O IDH  0,689 É BAIXO.

O IDH é um índice concebido e adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O IDH mede o desenvolvimento de uma população, com base em três aspectos bem definidos: a expectativa de vida ao nascer (saúde), acesso ao conhecimento (educação) e paridade do poder de compra (renda). O IDH varia entre o mínimo de 0 (zero) a máximo  de 1 (um). O índice foi desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq, e vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no seu relatório anual.

A “república” amargou seu IDH no ano de 2010 na marca de 0,689, ocupando a 296ª posição e entre os municípios de Minas Gerais e a 2.205ª posição, entre os piores do Brasil, perdendo para Manhumirim com IDHM de 0,697 na 245ª posição em Minas, perdendo para Caratinga com IDHM de 0,706, na 195ª posição e Muriaé com IDHM de  0,734, na 72ª posição, sem falar de Viçosa que ostenta 11ª posição do Estado com IDHM de 0,775. Mas e daí? A resposta é que nem é necessário nenhum especialista para perceber que o município de Manhauçu tem uma economia pujante, um PIB invejável, mantido devido à sua fortíssima polarização sobre os municípios vizinhos no comércio e prestação de serviços, isto é o que dá um dos três pilares do IDHM, a renda, já referida acima. Esta renda não é tão bem distribuída, pois se o fosse a população dependeria menos do Poder Público e teria educação e saúde por conta própria, já que a “república” não lhe dá. É importante aqui observar que o que ainda ajuda a elevar o PIB da “república” é o PIB per capta, ou renda média por pessoa, mesmo que mal distribuída. Não fosse este fato o IDHM da “república” seria ainda mais baixo.

REPÚBLICA INCONSTITUCIONAL COM POVO FRACO E SEM ESCOLA

A situação se complica mais ao se verificar que os outros dois fatores que compõem o IDH: saúde e educação são direitos de todos e deveres do Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), nos termos do art. 196 e seguintes e art. 205 e seguintes da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Pensar que o fato de a saúde e a educação serem também deveres do Governo Federal e do Governo de Minas salva a “república” do “pecado” é ledo engano, pois os demais municípios aqui comparados estão também situados no Estado de Minas e no Brasil e estão mais desenvolvidos que a “república”, segundo a ONU. Então, neste caso, só há um culpado, a Administração Municipal de Manhuaçu que vem ao longo dos anos condenando seus cidadãos à morte precoce, sem a escolaridade devida e necessária ao desenvolvimento, descumprindo seu dever constitucional. É bom que se saiba que atendimento médico é necessário, mas nem de longe corresponde a uma boa saúde pública, pois para que se tenha boa saúde é também indispensável: saneamento básico, água de boa qualidade, alimentação adequada, coleta e destinação adequada do lixo, higiene pessoal etc, tudo isto para a população da cidade, dos distritos e rural, pois lá também tem filhos de Deus, republicanos de verdade, de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, munícipes. O outro pilar, a educação, a Administração Municipal deve oferecer aos seus cidadãos sem que seja algum favor, trata-se de direito. Alguma coisinha pouca que se tem por aí com relação à educação tem sido dada por outras esferas do poder público ou comprada pelos cidadãos e não oferecida pela Administração Municipal. Nem as anteriores, nem a atual.

Concluindo: se aquela “inscrição”: “Seja bem vindo à República Manhuassu” fincada na porta do lixão ilegal do município quer comunicar que o IDHM de Manhuaçu é vergonhoso e que portanto está proclamada a “república” independente, diferente (para pior) dos seus vizinhos, tudo está explicado. Vai ser fundada uma República com IDH que ocupa a 2.205ª posição, entre os piores do Brasil. Se não é isto, perdoe-me, mas falta conhecimento da realidade e criatividade por parte de quem teve aquela infeliz idéia “tiburciana”.

Em tempo:

Há duas possibilidade de recursos: recorrer contra o IBGE, alegando que o PIB de Manhuaçu não é tão grande ou que a população é maior ou menor, ou recorrer à ONU, alegando que o PNUD não sabe medir IDH. Caso os acusados não queiram recorrer, tratem de pagar suas penas e os que todos passem a enxergar um pouco mais distante do alcance de suas mãos. Vale para todos!

                                                                              Manhuaçu (MG), 11 de Janeiro  de 2014,

 José Antonio Porcaro

Eng. Agrônomo  – Bel. em  Direito

1 COMENTÁRIO

  1. Com a maestria e olhar aguçado que é peculiar ao “delator” da notícia restou
    comprovado cientificamente o fracasso da nossa “república”, não há boletim
    ou mídia forçada que desminta os fatos. Estamos passando por ridículo ao permitir
    que a pantumia de um Dom que não passa de quixote seguidos pelos séquitos com afrouxamento de freios éticos tentem acalorar um movimento separatista que trouxe mortes e guerra. É a contramão da diplomacia.

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