O Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) está fazendo mutirões de atendimento na capital paulista para alertar as pessoas sobre os riscos do consumo de álcool. Os mutirões fazem parte da Semana de Combate ao Alcoolismo. Na manhã de hoje (18), profissionais do Cratod abordaram pessoas nas ruas do Bairro da Luz, região central de São Paulo, para falar sobre os males provocados pelas bebidas alcoólicas.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o brasileiro bebe por ano 1.057 latinhas de cerveja, o que dá uma média de três latas por dia. O consumo anual de álcool puro é de 18,5 litros. A OMS considera abusivo o consumo de 60 gramas (o equivalente a 4,2 latinhas) ou mais de álcool, pelo menos uma vez por semana. No Brasil, o consumo é cinco vezes maior do que o limite estabelecido pela OMS.
As pessoas abordadas pelo Cratod responderam a um questionário para identificar o nível de dependência de álcool e passaram pelo teste do bafômetro e, conforme a necessidade, foram encaminhadas para tratamento em unidades de referência.
Na opinião da diretora de Ação Comunitária do Cratod, Selma Rejane Setani, esse tipo de abordagem é interessante porque, muitas vezes, as pessoas fazem uso de álcool e não têm noção de que o volume da substância consumido já oferece risco para sua saúde ou pode indicar uma futura dependência.
A psicóloga disse que é preciso ficar atento quando a frequência com que se bebe começa a ficar maior. A família tem papel fundamental tanto na prevenção quanto na ajuda para solucionar o problema, uma vez que, quase sempre, as pessoas começam a experimentar bebidas alcoólicas dentro de casa. Por isso, a família tem que ser consciente e não oferecer bebidas a crianças e jovens.
“O contato [com bebidas alcoólicas], às vezes, é bem precoce, por volta dos 10 anos. E as famílias, algumas vezes, encaram o porre do adolescente como uma coisa normal, porque eles, quando adolescentes, também se embebedavam. Mas é bom ficar alerta para a frequência.”
A frequência com que o indivíduo bebe determina se ele é usuário de risco ou se já é dependente, explicou Selma. Para o adolescente, no entanto, todo uso é de risco, por causa do metabolismo em evolução. “Tem adolescente que toda sexta-feira vai para o barzinho e bebe dez cervejas. Já é uso de risco. Se o jovem perde aula, fica bêbado e envolve-se em brigas ou acidentes automobilísticos, é sinal de que já está caminhando para a dependência.”
Selma atribui o consumo cada vez mais precoce de bebidas alcoólicas por adolescentes ao excesso de propaganda, que estimula esse hábito e o associa ao rito de passagem para a faixa adulta, fazendo com que o jovem queira experimentar drogas e ter convivência grupal.
O ajudante Amilton de Souza Calixto, de 28 anos, começou a beber aos 15 anos, mas, até os 18, o álcool não teve influência negativa em sua vida. Depois dos 18 anos, porém, começou a ter problemas e não conseguia trabalhar, nem estudar direito. “Às vezes, eu dormia na rua, porque não conseguia ir para casa, brigava em bares. Por causa do álcool, perdi emprego, namorada, dinheiro e amigos.”
Para Calixto, aqueles que apreciam uma cerveja nos fins de semana devem se programar e ficar atentos para não se tornarem dependentes. Ele conta que começou com a cerveja do fim de semana, mas que, aos poucos, passou a tomar cachaça diariamente. “As amizades e a bebida fácil influenciam muito e, com isso, perdemos o ritmo da coisa.”
Amilton Calixto diz que está tentando parar, mas enfrenta dificuldades porque o corpo já se acostumou à bebida. “Parece que só estamos felizes quando estamos bebendo. Quando paramos de beber, naqueles primeiros momentos, parece que a vida está chata”, disse ele, aconselhando os jovens a evitar bebidas alcoólicas.
Agência Brasil