Polícia Civil conclui inquérito sobre desaparecimento de Eliza Samudio Silva

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Instaurado em 24 de junho pela Polícia Civil de Minas Gerais e encaminhado à Justiça nesta sexta-feira (30), o inquérito presidido pelo delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), para apurar o desaparecimento de Eliza Samudio Silva, apresentou as seguintes conclusões:

1. Eliza Samudio foi assassinada na noite do dia 10 de junho por Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como “Bola”, “Neném”, “Russo” e “Paulista”, contratado por Luiz Henrique Romão, vulgo “Macarrão”, a mando do atleta profissional Bruno Fernandes das Dores de Souza. Ela foi morta por asfixia mecânica na residência de “Bola”, em Vespasiano. O corpo foi destruído. Depois de esquartejado, parte do cadáver foi consumida por cães e os restos ocultados;

2. Eliza Samudio foi seqüestrada no dia 4 de junho, no Rio de Janeiro. Ela permaneceu em cárcere privado na residência de Bruno, no Recreio dos Bandeirantes, na mesma cidade. Passou ainda algumas horas em um motel em Contagem, de onde seguiu para o sítio do atleta, em um condomínio do município de Esmeraldas, até ser levada para a casa de Marcos dos Santos, em Vespasiano, onde o plano de eliminá-la foi executado;

3. Além de Bruno Fernandes, Luiz Henrique Romão e Marcos Aparecido Santos, tiveram participação no crime também Flávio Caetano de Araújo, o “Flavinho”, Wemerson Marques de Souza, o “Coxinha”, Dayanne Rodriques do Carmo Souza, Elenilson Vitor da Silva, Sérgio Rosa Sales, o “Camelo”, Fernanda Gomes de Castro e o adolescente J.;

4. Com exceção de Marcos Santos, que foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha; e do adolescente J., os demais suspeitos foram indiciados por seqüestro, cárcere privado, homicídio, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores;

5. O adolescente J. foi denunciado pela participação nos crimes de seqüestro, cárcere privado e homicídio, com alegações finais feitas pelo Ministério Público, e aguarda pronunciamento do Juizado da Infância e Juventude de Contagem.

PROVAS – MATERIALIDADE INDIRETA

As conclusões do inquérito têm como base de sustentação os vestígios e indícios abaixo:

• O sangue encontrado na parte traseira da Range Rover teve resultado positivo na comparação com o DNA de Eliza Samudio. Dentro do veículo, usado para trazê-la a Minas Gerais, a vítima foi atacada pelo menor J., que desferiu-lhe três coronhadas na cabeça;

• O abandono do filho de Eliza Samudio, de quatro meses de idade, pivô da ação judicial de reconhecimento de paternidade, cumulada com alimentos, que foi o principal motivador do crime. Ele foi subtraído por “Macarrão” e o adolescente J., sendo posteriormente entregue por Bruno à Dayanne, para que esta tomasse conta dele provisoriamente. O bebê, batizado de Bruno, passou a ser chamado de Ryam Yure, na tentativa de apagar quaisquer vínculos de relação com Eliza;

• A contratação para execução do crime de um homem com vivência policial preventiva e investigativa, dotado de conhecimentos de técnicas de combates urbanos e nas selvas, com domínio e manuseio de materiais explosivos.

OUTRAS PROVAS TÉCNICAS

• Laudo de análise do relatório do GPS do veículo Range Rover, placas KXS-1531, de propriedade de Bruno Fernandes, conduzido por Luiz Henrique Ferreira Romão e utilizado no sequestro da vítima. A ação criminosa começou no dia 4 de junho, por volta das 21h. O laudo demonstra passo a passo o deslocamento feito do Hotel Transamérica do Rio de Janeiro para Minas Gerais, culminando com a apreensão do veículo em Contagem, no dia 08 de junho;

• Reconhecimento por amigas e parentes, como sendo pertencentes à Eliza Samudio, do par de sandálias e óculos encontrados no veículo Range Rover;

• Cruzamento de registros de ligações telefônicas dos indiciados, constatando o envolvimento e localização dos mesmos no período do dia 4 a 12 de junho. As Estações Rádios Bases (antenas de transmissão de telefonia), utilizadas pelos autores quando Eliza era levada para ser executada, demonstram a correlação dos trajetos com os depoimentos, bem como a mesma localização no horário em que se encontraram para levar a vítima até o local em que fora executada;

• Fralda tamanho P/M encontrada na suíte do motel onde Eliza, seu filho, Bruno, Fernanda, Luiz Romão e J. passaram a noite;

• Invólucro contendo fotografias queimadas do filho “Bruninho”, encontrado próximo à cerca do sítio de Bruno;

• Laudo referente a exames realizados nos notebooks de Eliza Samudio e Luiz Henrique Ferreira Romão, destacando fotos da criança e de Bruno, as quais foram encontradas queimadas perto da cerca do sítio; trechos de conversação que registra ameaças que vinha sofrendo; o contrato redigido no notebook de “Macarrão” a ser firmado entre Eliza e Bruno, datado de 08/06/2010, ocasião em que Eliza estava cativa no sítio de Bruno, bem como uma procuração em branco;

• Laudo de áudio de entrevista à Rádio Tupi do Rio de janeiro, do tio do adolescente J., dando detalhes de como ele (o menor) participou do crime e o estado emocional em que ele se encontrava;

• Laudos de áudio e vídeo constando entrevista do indiciado Bruno Fernandes, nas quais relata, com contradições, no programa Fantástico (Rede Globo) e em jornais, que não tinha conhecimento dos fatos, imputando ao indiciado Luiz Henrique Romão, o “Macarrão”, a responsabilidade de lhe ter entregue a criança;

• Laudo de áudio e vídeo de outras gravações, veiculadas no Programa do Ratinho (SBT) e Balanço Geral (TV Record), em que estão registradas falas de “Macarrão” e Bruno;

• Entrevista de Eliza Samudio no site Youtube, denunciando o indiciado Bruno por sequestro e tentativa de aborto;

• Áudio de entrevista do irmão de Dayanne, Diego Rodrigues do Carmo, à Rádio Itatiaia de Minas Gerais, particularizando a participação da irmã no crime.

PROVAS TESTEMUNHAIS

• O depoimento de Sérgio Rosa Sales, vulgo “Camelo”, em que ele detalha como Eliza foi conduzida no veículo Ecoesporte, portando sua mala vermelha. Após sua morte, a mala com pertences da vítima foi queimada pelo indiciado “Macarrão” e o menor J., juntamente com um álbum de fotografias do filho de Eliza;

• Declarações de Dayanne, detalhando como Eliza foi retirada do sítio, tendo depois, o indiciado Bruno, levado o filho da mesma para que ela (Dayanne) cuidasse, fortalecendo ainda mais a certeza da morte de Eliza Samudio;

• Informações do menor J., detalhando a maneira como Eliza Samudio foi estrangulada pelos indiciados Marcos dos Santos e Luiz Henrique Romão. De acordo com parecer de médico legista, com base nas informações, Eliza morreu por asfixia mecânica;

• Depois de ser vista pela última vez saindo em companhia de J. e de “Macarrão”, Eliza Samudio não mais deu notícias, nem ao menos contatou as melhores amigas e os parentes, a não ser àquelas a que fora coagida a dizer, como costumeiramente fazia, que estava bem. Familiares, amigos, amigas, pessoas do relacionamento falavam com Eliza, com constância diária, via Nextel e MSN.

O trabalho de investigação foi coordenado pelo delegado Edson Moreira, chefe do DIHPP, e contou com a participação dos delegados Wagner Pinto, chefe da Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV), Ana Maria Paes dos Santos, titular da Delegacia Especializada de Homicídios de Contagem e Alessandra Wilke. O trabalho teve a colaboração ainda de 20 investigadores e três escrivães, além dos peritos do Instituto de Criminalística

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