A permanência do Exército nas favelas do Complexo do Alemão pode comprometer a imagem da instituição, que não é treinada para a mediação de conflitos. A avaliação é do cientista político Jorge da Silva, coronel da reserva e ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar (PM), que ocupou o cargo de secretário estadual dos Direitos Humanos do Rio entre 2003 e 2006.
A missão do Exército, que deveria se encerrar este ano, foi prolongada até junho de 2012, a fim de permitir a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), gerida pela PM. Nascido e criado na região onde se instalou o conjunto de favelas do Alemão, o coronel se diz cético quanto à presença das tropas militares no local, principalmente depois dos incidentes envolvendo soldados e moradores.
“O Exército não foi feito para mediação. Manter o Exército ali vai, simplesmente, desgastar a autoridade da tropa e acabar atingindo a própria imagem da instituição. A natureza deles não é essa”, alertou o ex-secretário, que atualmente é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), onde coordena estudos sobre ordem pública, polícia e direitos humanos.
Para ele, a chave no processo de pacificação das comunidades é a mediação. “A PM ainda se vê como uma força militar e não como uma força de mediação de conflitos. Lá no Alemão, tem que mediar e administrar o conflito. Quando você raciocina em termos de guerra, quer acabar com o conflito na base da força. A polícia não pode ser capacitada dentro desse modelo militar de autoridade, mas de um modelo de mediação.”
Jorge da Silva não vê com bons olhos a presença de militares das Forças Armadas nas comunidades, pois acredita que eles não são treinados para isso. “Polícia não é Exército, nem Exército é polícia. Quando a polícia quer virar Exército, dá tudo errado. Quando o Exército quer virar polícia, também dá tudo errado. É o que está acontecendo.”
Agência Brasil