Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor –
Vejo, num manual de redação que encontrei entre os meus guardados, um subtítulo estarrecedor, sob o título “Poesia Contemporânea”, que perguntava: “Será que a poesia morreu?”
Acho estarrecedor e temerário, porque mesmo que o malfadado texto se refira à forma, ao poema, mesmo que se refira ao gênero literário poesia, não dá para cogitar que a poesia possa morrer. Porque a poesia não está, absolutamente, confinada no poema. Ela existe na prosa, em outros tipos de arte, num gesto, na natureza, em tudo, enfim.
Sabemos que ainda há um certo preconceito contra o gênero literário poesia. Inacreditavelmente ainda há, até, homens que não lêem poesia porque poesia é “coisa de mulher”. Parece mentira, mas existe. Essas pessoas, que infelizmente não são poucas, na verdade, na maioria das vezes não lêem nada. Mas se lessem, deveriam saber que a poesia, o gênero literário, é assim, tem essa forma de se apresentar em versos com ritmo e ainda, em peças clássicas e até em algumas mais contemporâneas, com métrica e rima, porque no passado remoto, quando não havia escrita, o ser humano usava esses recursos para que fosse mais fácil memorizá-las e não perdê-las no decorrer do tempo. Foi a maneira que encontraram de conservar peças da cultura popular de nossos antepassados, nos primórdios da civilização. Essa era a forma de preservar a literatura de um tempo distante, que poderia ser em prosa, se pudesse ser escrita.
Verdade que o gênero poesia é, hoje em dia, um dos que menos vende livros, pelo menos no Brasil. Mas é também, um dos gêneros mais fecundos. É contraditório, mas é um fato. Apesar de as editoras darem preferência ao romance, ao livro de auto-ajuda, ao livro técnico, o gênero mais produzido há já vários anos é a poesia.
Sabemos que nem tudo o que se produz tem qualidade, mas é o que mais se produz. Muitos livros artesanais de poesia são publicados com recursos do autor, pois não são aceitos por nenhuma editora. E são vendidos de mão-em-mão pelo próprio poeta, que o põe debaixo do braço e sai a oferecê-lo. Se não vender, é dado de presente ou enviado à jornais, revistas e suplementos culturais, gente do meio, numa tentativa de vê-lo divulgado.
Então não há como pensar que a poesia morreu, porque ela estará sempre aí, tanto aquela dos grandes autores, que permaneceu no tempo até agora e permanecerá para sempre, tanto aquela contemporânea, que está sendo produzida e que será produzida ainda, mesmo que a qualidade a ser medida não nos revele a mesma quantidade de valores quanto os há de autores.
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