Lixo: problema ou oportunidade de negócio?

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Marçal Rogério Rizzo*
Elder Camargo Rotondo**

A geração de lixo sempre fez parte da história da humanidade. A produção desse resíduo é inevitável, porém, em cada período da história, ela ocorreu de uma forma. Nos primórdios, o homem era nômade, consumia o que coletava e caçava. O número de habitantes era reduzido, e, por onde passavam deixavam seus restos, de modo que não sentiam os problemas que o lixo ocasiona.

A humanidade “evoluiu” e, com a “evolução”, trouxe o aumento do número de habitantes e transformações na forma de produzir e de consumir. Com a evolução técnica e científica, os produtos ficaram mais acessíveis e a população passou a ter mais necessidade de consumi-los. Outro ponto a ser lembrado são as muitas modificações pelas quais os produtos passaram desde a mudança das matérias primas até as embalagens que passaram a ter. O marketing veio para incluir mais uma “pitada” nessa mistura de ingredientes que vem produzindo muitos resíduos.

Para se ter uma ideia do que estamos falando, há um ranking que mede a quantidade média de lixo por habitante/dia. Pesquisas recentes apontam que, com o bom desempenho da economia do país, o volume de lixo aumentou. Isso é simples de entender; basta pensar que tem mais gente ganhando melhor e, assim, consumindo mais, consequentemente gerando mais resíduos. E quanto resíduo cada habitante gera em média?

De acordo com Juliana Boechat (Correio Braziliense – edição de 08-02-2010), “O brasiliense é o que mais produz lixo em todo o país. Cada morador da capital federal produziu, em 2008, uma média de 2,4 kg de lixo por dia. Por ano, são 876 kg por pessoa. O DF também lidera o ranking de produtores de resíduos sólidos em relação a outros estados. Dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, calculam 1,96 kg produzido, diariamente, por habitante. Em seguida aparece a Paraíba, com 1,56 kg”. Como viram, é muito lixo a que ser dado o fim adequado! No entanto, Brasília não possui um aterro sanitário adequado.

A grande questão é: o que fazer com essas montanhas de lixo? Atualmente, estas vêm-se tornando uma grave ameaça por oferecer riscos à saúde da população. O lixo pode contaminar a água, o solo e, se for queimado inadequadamente, expandem-se os riscos de poluição para o ar. As pessoas, em pleno século XXI, ainda têm o péssimo hábito de jogar o que não lhes serve mais em qualquer lugar ou então de queimar folhas, galhos e restos de lixo. Quantas vezes a televisão mostra objetos estranhos no rio Tietê, em São Paulo, como portas de geladeiras? Mas não é preciso ir às capitais ou grandes cidades para se assistir a cenas deploráveis. Dia desses vimos um sofá e um colchão jogados às margens da rodovia Euclides da Cunha, nas proximidades do município de Jales (SP).

Outro ponto notado é que grande parte do lixo que é produzido no Brasil é de procedência orgânica, porém o dado que deve ser visto com preocupação é que 76% de todo resíduo produzido no Brasil ainda são abandonados a céu aberto ou em locais impróprios, como, por exemplo, o Morro do Bumba em Niterói (RJ), que recentemente foi palco de uma tragédia que ceifou a vida de centenas de pessoas.

Ali o solo é instável, de onde emanam gases, especialmente metano, que é inflamável e tóxico. Havia mau cheiro e escorria o chorume (líquido negro e viscoso que é gerado pela decomposição do lixo), que tem contaminado o lençol freático e os mananciais próximos.

O Morro do Bumba não é um caso isolado. Matéria do jornal Estado de São Paulo (edição de 13-04-2010) revelou que existem 17 mil pessoas na Grande São Paulo morando em áreas onde antes eram lixões. Cita o Sítio Joaninha (localizado na divisa das cidades de São Bernardo do Campo e Diadema, onde já houve desmoronamentos e explosões) e a Favela do Espírito Santo (Santo André). Em Mauá, há até um condomínio de classe média instalado sobre uma dessas áreas inadequadas, onde já ocorreu uma explosão que matou um homem.

A desculpa para a não disposição adequada do lixo é o alto custo para a implantação de aterros sanitários ambientalmente corretos. Temos casos de aterros do país e do mundo que já se esgotaram e assim, torna-se necessário transportar os resíduos de caminhões para outros locais mais distantes, o que encarece o tratamento do lixo. Existe também a herança industrial de alguns locais que necessitam ser descontaminados dos lixos tóxicos que foram depositados ali.

A sociedade deveria apostar numa mudança de paradigma e acreditar que realmente nada se cria, nada se perde e tudo se transforma. Imaginemos a busca do ideário de transformar o lixo em verdadeira e plena fonte de renda. Poderíamos afirmar que é um mercado promissor e que “[…] os primeiros a entrarem nesse mercado ficarão bilionários”, como afirma Eric Lombardi, que dirige a maior organização de reciclagem sem fins lucrativos dos Estados Unidos.

Segundo informações obtidas na Revista Sustenta (edição nº 7), das 150 mil toneladas que o Brasil gera diariamente (incluindo os resíduos orgânicos), reciclamos apenas 12%. O fim dos 88% restantes são aterros e lixões, de modo que desperdiçamos R$ 10 bilhões por ano com a reciclagem.

Sonho e otimismo à parte, dentro desse contexto o lixo como fonte de renda e de energia é algo que vem dando certo em alguns lugares do mundo, por se tratar de uma solução com bases econômicas, sociais e ambientais. O Brasil tem um grande potencial a partir de resíduos sólidos, podendo aumentar em mais de 15% a produção total atual de energia elétrica a partir do lixo (queima do gás metano em usinas termoelétricas).

Assim, comecemos olhando para o lixo de forma diferenciada – vejamos nele os problemas e as oportunidades. Potencial energético, renda e empregos podem ser encontrados no lixo, mas é necessária a mudança de pensamento e de atitude, não só governamental ou empresarial, mas de cada cidadão em suas casas. Atitudes simples envolvendo o lixo melhorarão a qualidade de vida de todos. Não vamos fazer do Brasil um grande Morro do Bumba!

Temos certeza de que você e eu podemos reduzir os nossos resíduos, separá-los de forma adequada e cobrar das autoridades a implantação da coleta seletiva e de aterros sanitários. 

* Marçal Rogério Rizzo: Jalesense, Economista, Professor Assistente da UFMS, Campus de Três Lagoas (MS), Doutorando na área de Meio Ambiente.

** Elder Camargo Rotondo: Jalesense, Acadêmico do último ano de Administração da UFMS, Campus de Três Lagoas (MS). Desenvolve pesquisas e estudos na área da Sustentabilidade

1 COMENTÁRIO

  1. Muito interesante e por demais proveitoso, já que enfatiza um tópico muitto importante que é o da conscientização do cidadão com relação aos danos ao meio ambiente. Nós da ONG Ser Integral estamos para lançar um Projeto Social que utiliza os princípios dos três “R” tanto na ação social educacional familiar quanto na ação social comunitária.Breve estaremoos divulgando as ações é tudo questão de registros etc.

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