Preços de diárias subiram 15% em um ano e variam até 233% por região.
Com o crescente número de veículos nas ruas de Belo Horizonte – só na capital são mais de 1,2 milhão – e a escassez de espaço para guardar os carros, aumenta também o custo para manter o automóvel em um lugar seguro. Lotados e com preços “salgados”, os estacionamentos particulares seguem à risca a lei da oferta e da procura, sendo alvos constantes de queixas entre os motoristas.
O preço de uma diária chega a R$ 40. Somente de junho de 2009 a maio deste ano, a variação nos valores cobrados chegou a quase 15%, quase o triplo da inflação medida no período, de 5,39%. As vagas de mensalistas – uma raridade em algumas regiões da cidade – chega a custar mais de R$ 300, dependendo do endereço.
O levantamento foi feito pelo Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), entre os dias 17 e 20 de maio deste ano. Na pesquisa comparativa de preços foram pesquisados 69 estabelecimentos em sete bairros de Belo Horizonte. As variações de preço das diversas frações de tempo (15 minutos; 30 minutos; 1 hora; diária e mensal) oscilaram entre 100% a 233,33%, entre os estacionamentos. Os preços mais altos se concentram na Zona Sul da cidade.
Para se ter uma ideia da fome de arrecadação dos estabelecimentos, no Estacionamento Minas Park da Avenida Cristovão Colombo, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul, o preço da fração de 15 minutos é de R$ 3. Quem fica com o carro estacionado por 30 minutos tem que pagar o dobro. Já a diária sobe para R$ 40. O mensalista do Minas Park paga exatos R$ 250 para ter direito a utilizar o serviço durante todo mês.
O encarregado do estacionamento Minas Park, Fabiano de Andrade Oliveira, explica que os preços são ajustados de acordo com a concorrência da região. “Os valores cobrados são os mesmos dos outros estacionamentos”, defende Fabiano Oliveira. Segundo ele, o local pode abrigar até 40 veículos. Destes, 24 são mensalistas. “A lista de espera é grande. Temos mais de 40 pessoas aguardando uma vaga para guardar seu carro”, garante Oliveira.
Para alguns, o estresse proporcionado pela falta de opção para estacionar os carros já mudou até a rotina de trabalho. Cansado de não encontrar vagas para estacionar o carro ou ver seu dinheiro evaporar nos espaços particulares, o gerente comercial Milton César de Andrade, 43 anos, resolveu deixar seu Peugeot 206 na garagem e ir trabalhar de ônibus. “O estacionamento é muito caro e não compensa. Vagas livres são praticamente impossíveis de achar. O jeito foi recorrer ao transporte coletivo”, lamenta Andrade, que trabalha na Região Hospitalar.
Segundo Milton César de Andrade, o percurso da casa para o serviço, que antes era feito em 30 minutos, agora demora três vezes mais – quase uma hora e meia. A outra opção seria vir de carro e parar no faixa azul, mas essa também foi descartada. “Parar no rotativo ficava muito caro e, mesmo assim, arrumar uma vaga é complicado. Muitas pessoas param por aqui”, acrescentou o gerente.
O custo com estacionamento é tão significativo que consta até no cálculo da inflação, conforme ressalta o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Administrativas, Econômicas e Contábeis (Ipead), Wanderley Ramalho. Segundo ele, o peso do item na conta final é pequeno, abaixo de 1%. Mas, ainda assim, abocanha uma boa fatia do salário das pessoas. “A maioria dos usuários deste serviço é de classe média ou acima dela. Na comparação com outros, é claro que ele não chega a ser um dos itens que mais pesam, como os alimentos, mas impacta no orçamento das famílias”, analisa Ramalho.
Wanderley Ramalho reforça que a única explicação para o aumento acima do dobro da inflação, no preço dos estacionamentos, é a velha lei da oferta e da procura. Segundo ele, os motoristas podem preparar o bolso, já que novos reajustes não estão descartados. “Não dá para fazer uma projeção, mas o que temos visto é um crescimento enorme da frota. E com mais carros, a demanda aumenta, consequentemente. O consumidor deve ficar atento e sempre procurar o melhor preço. A única solução para ele continua sendo pesquisar, antes de contratar o serviço”, aponta o coordenador do Ipead.
Para que a atividade de estacionamento seja feita em Belo Horizonte é exigido um processo prévio de licenciamento, por meio de alvará. A lei que regulamenta a atividade não determina nada sobre os valores cobrados. Na prática, vale a lei de mercado. Segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), “é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas, elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”. Para o coordenador do Procon da ALMG, Marcelo Barbosa, cabe somente ao Ministério Público intervir sobre um possível abuso no preço cobrado. O MP foi procurado para comentar o assunto, mas a informação passada pela assessoria de imprensa foi de que, devido a compromissos, o promotor responsável não estava disponível para falar.
FONTE: Hoje em Dia