O único meio que você tem para superar uma derrota é refletindo sobre os fatos e aplicando o raciocino lógico catando os cacos e refazendo tudo, começando do zero. Essa derrota deve marcar uma virada. Não adianta agora colocar a culpa em alguém. É preciso uma reciclagem. É necessário e urgente encontrar uma nova maneira de se tratar o futebol profissional brasileiro. Isso deve começar pela CBF, passando pelos governos que devem investir mais em esportes, revendo e repensando tudo. Depois da tragédia brasileira diante da Alemanha no placar de 7 x 1, é bom saber que a Alemanha deu a volta por cima e veio preparada para ser a campeã de 2014.
A começar pelo técnico Joachim Löw, que ajudou a renovar o padrão de jogo da seleção desde quando ainda era assistente técnico de Jürgen Klinsmann, na Copa de 2006, na própria Alemanha. Eliminados na semifinal em casa, tal qual o Brasil, os alemães usaram o resultado como incentivo para reestruturar o futebol dentro e fora de campo. O fair play alemão teve sequência na repercussão da goleada. Em todas as entrevistas pós-jogo não houve uma provocação, uma declaração que tentasse diminuir o Brasil pela humilhação em campo. A palavra respeito passou a ser empregada em cada discurso, e Löw lembrou que viveu frustração semelhante em derrota na semifinal de 2006. Após um terceiro lugar, jogando em casa que Alemanha preparou uma geração a longo prazo para vencer, mas sem se abater diante da derrota. Essa é parte da receita do sucesso alemão para estar presente nas semifinais dos quatro últimos Mundiais e ser vitoriosa na copa do Brasil.
O pentacampeonato é algo cravado no futebol mundial e nunca será manchado. Agora é juntar os cacos, aprender com os erros e crescer. Há males que vem para o bem. Espero, de coração, que a ressurreição aconteça rapidamente e o Brasil, com o material humano que tem, possa se reinventar e novamente assombrar o mundo como em 58, 62, 70 e até, por que não, 1982.
O Brasil é o país do futebol, mas a realidade está muito distante, durante a copa mais de 16 mil atletas profissionais de futebol ficaram desempregados esperando para receber seus salários atrasados. Ser o país do futebol não significa vencer partidas e ser penta campeão, mas sim fazer deste esporte um ambiente de oportunidade, educação e cultura para todos.
Existe uma solução viável para melhorar o futebol brasileiro, mas não será fácil, comecemos fora de campo. É razoável que qualquer mudança profunda passe por uma alteração na entidade que comanda o futebol brasileiro, desde a Série D até a seleção. A CBF precisa mudar, mas não é uma questão apenas de trocar o presidente por outro, como já foi aventado, ou seja lá quem for. É preciso pensar que modelo de gestão é o mais adequado, que tipo de campeonato queremos e como valorizar os jogos em campos.
É preciso lembrar que a CBF não é como é por acaso. Tem uma história de interesses inconfessáveis por trás de tudo isso. Quem determina os jogos às 22 horas e porque, nem precisa dizer que é a rede Globo. Mexer no futebol brasileiro é também comprar briga com a rede mais famosa do país. Em pleno ano da Copa do Mundo, o futebol brasileiro pode ter a sua maior vitória, mas dessa vez ela será fora de campo. A mudança precisa passar pelos clubes, federações, treinadores, jogadores, dirigentes e a CBF que precisa deixar de ser um clube de compadres, aplicar melhor seus recursos que são muitos e reestruturar, reinventar uma nova maneira de se fazer futebol, usar sua influência aos poderes públicos para que se invista mais nos esportes de base. Uma seleção precisa ser uma equipe entrosada e preparada física e psicológica.
Alguns jogadores de grandes clubes do país, que acompanham de perto os problemas do futebol brasileiro, são unanimes em afirmar que a grande maioria dos jogadores profissionais fica desempregada durante metade do ano por falta de jogos. Os principais clubes brasileiros estão endividados e acumulam dívidas fiscais e trabalhistas. Enquanto, o público em nossos estádios diminui ano após ano, outros países como EUA e a Austrália mostram grande crescimento.
Pior que ver seu time perder é ver ele atuando mal, se a nossa seleção perdesse, jogando um bom futebol não teria nada de estranho, a seleção da Colômbia perdeu a partida jogando um futebol de raça, tanto é que foram recebidos com festa em seu país.
A Alemanha tem todos os quesitos de uma grande campeã, o respeito e a ética são fundamentais para o sucesso e portanto é um elemento de destaque para ser um vencedor. A atitude exemplar da Alemanha mesmo com uma vitória de 7 x 1 sobre nossa seleção que não fez firulas, não tentou humilhar e teve comportamento respeitoso às nossas tradições, certamente não teria acontecido por nossa parte com eles e com outros países. Isto vale para a vida, foi uma mensagem grandiosa à nosso povo e também para atuais e futuras gerações e a Alemanha ganhou um respeito e admiração adicional do povo brasileiro que certamente irá a partir de hoje enxergar os alemães com outros olhos.
Em contra partida o Brasil apesar do fracasso na busca do hexacampeonato deu uma resposta ao mundo quanto a sua capacidade de organizar grandes eventos e afastou as dúvidas tão citadas por muitos formadores de opinião do Brasil e tão potencializado pela mídia internacional e em especial pela FIFA.
Fale com a redação [email protected] – (33)3331-8409