A miopia política faz mais danos do que a cegueira em si. Quando
alguns nada veem ou apenas olham sem ver, é fácil mostrar a realidade:
os cegos até agradecem, pois passam a entender o que não conseguem divisar. Mas a miopia política, que vê pela metade ou em forma distorcida, invertendo ângulos, está convencida de que enxerga maravilhosamente bem e só aceita o que não vê. Ou o que não é.
Quanto mais o mundo estiver de cabeça para baixo, mais a miopia
política acaba por ver tudo no lugar certo. Convencida de que o mundo
é aquilo que aparece (e não o que é), foge das soluções concretas. Não
indaga nem acha isto necessário, pois vê o mundo como miragem e
faz do irreal algo material.
Lembro-me disto não só em função da tosca política brasileira, mas
de outro fato destacado na imprensa.
A fotografia de Aylan, o menino curdo de três anos cujo corpo deu às
costas da Turquia após o naufrágio do barco em que era “contrabandeado”, com a família, rumo à Europa, circulou pelo mundo numa mostra da situação cruel do Oriente Médio e da África. O drama dos que fogem da perseguição e da miséria tem, agora, um símbolo material de dor.
Mas, pergunto: a generosidade com que os países europeus, a começar
pela Alemanha, recebem os refugiados não terá muito de miopia ou,
até, de cínico estrabismo?
O problema a resolver no Oriente Médio, ou na África negra, não
é a situação dos que fogem da matança, da opressão e da fome. Os
refugiados são apenas o sintoma do horror político-social lá implantado. O problema é o criminoso fanatismo mórbido do chamado Estado
Islâmico e demais hordas que pululam pelos países muçulmanos. Na
África negra, e também muçulmana, a corrupção dos ditadores (alguns
à mostra, outros disfarçados) agrava a miséria e o atraso.
É isto que gera a fuga em massa. O problema não são os refugiados,
mas _ sim _ os ditadores que lá estão, alimentados pelo absurdo religioso das espadas que degolam cristãos e judeus, ou pelas bombas com que se matam entre si.
O problema a resolver é a barbárie lá existente. Receber generosamente os que fogem é só um cínico paliativo. Nenhum refugiado político ou
religioso opta por deixar sua pátria. Durante mais de 10 anos, durante a ditadura direitista, perambulei pela América e a Europa como refugiado político.
Obrigado a sair do Brasil, sei o que seja deixar tudo _ a família, os amores, a profissão _ e conhecer as dores de recomeçar tudo noutro ambiente, noutro idioma.
No Brasil, a ditadura terminou quando o presidente Carter, dos EUA,
pressionou os generais que seus antecessores haviam apoiado desde o
golpe de 1964. Em contraposição, hoje, o Ocidente festeja os facínoras
dos países árabes e da África produtora de petróleo.
A Fifa fará a Copa do Mundo de 2022 no Catar, um emirado absolutista, sem poder judicial nem direitos cidadãos, governado pelo emir Hamad bin Al Thani que, em 1995, depôs e fuzilou o próprio pai e todo o governo. Dias atrás, Obama recebeu em Washington o príncipe herdeiro da Arábia Saudita e os chefões do Catar, Bahrein e outros emirados e lhes renovou “a amizade e cooperação” dos Estados
Unidos. Nenhum desses governos, porém, se ofereceu para receber os
refugiados da Síria e outros.
Abrir os braços aos perseguidos é um belo gesto de humanismo,
mas inócuo e míope, pois não toca na origem do horror. A loucura dos
regimes de opressão continuará no Oriente Médio, com mais opressão,
terror e miséria.
P.S. –O assalto à Petrobras tem nova dimensão: Fernando “Baiano”
Soares, operador do PMDB na roubalheira, optou pela “delação premiada” e promete contar tudo sobre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, além de outros.
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