É impressionante notar o poder da TV; é ela que determina a pauta de discussão no cotidiano dos nossos telespectadores. Ela ainda reina absoluta na audiência brasileira; dificilmente você passa um dia sem que presencie pessoas discutindo sobre o comportamento dos personagens da novela “Amor à Vida”. Nas visitas que faço, costumo ouvir frases como esta: “Cuidado, a mamãe não gosta que ninguém conversa na hora da novela.” O mais espantoso ainda é quando vemos famílias inteiras em silêncio total em volta da televisão e o papo que rola é só sobre a novela. Uns opinam sobre os cantores do The Voice, enquanto outros criticam as falcatruas do Félix na novela. Esta semana estou de férias em Ribeirão Pires, Grande ABC/SP, com meus irmãos, sobrinhos e filhos, todos cuidando também de suas famílias. Comparando o Natal atual cheio de novidades tecnológicas com os natais de outrora, resolvi fazer uma enquete com aqueles que na infância o máximo que viram foi um carrinho a pilha ou uma boneca que mudava os passinhos. Isso no interior das Minas Gerais. Lógico que os mais abastados mandavam vir do exterior brinquedos mais arrojados.
Diante de celulares, tablets, videogames dos mais modernos, a pergunta foi a seguinte: “Se você pudesse voltar à infância, escolheria o Natal de hoje, com todo o aparato tecnológico, ou aquele de brinquedos caseiros, feitos de carretel de madeira, nos quais vinham as linhas de costura, ou as brincadeiras de rua, pois não tinha TV?” Venceu disparado a infância pobre, sem tecnologia.
E você que também teve um Natal pobre mas que venceu e hoje pode se dar ao luxo de presentear seus filhos com o que há de mais moderno? Qual Natal escolheria: o seu ou o de hoje?
Voltando ao assunto da primazia dos meios de comunicação, fico a imaginar os agentes que usam de tudo para tirar proveito dos aparatos tecnológicos (celulares, tablets, televisores, etc.), os quais determinam a pauta das discussões e o momento em que se discutem certos assuntos. É importante notar que a rainha carrega e predomina outros meios para propagar os temas de telenovelas, debates em rádios e redes sociais na Internet. Embora pareça exagero, vivemos aprisionados por detrás de grades (portões altos, muros eletrificados), enclausurados, todos presos a equipamentos eletrônicos que nos mantêm passivos e obedientes.
Os brasileiros, a cada dia que passa, fogem da leitura e ficam à mercê do que é disponibilizado para seu consumo ao ponto de o Facebook dar as coordenadas, e é fácil notar a tendência de outros meios de comunicação de pautar sua linhagem nos moldes do Facebook. Onde vamos parar com tudo isso? As crianças de hoje operam jogos dificílimos, mas não sabem fazer uma continha de multiplicar com três algarismos. Quando teremos uma política voltada para a valorização dos livros? A Internet, contudo, é uma das maiores invenções do século XX, na medida em que nos transforma, quando assim o desejamos, em produtores e agentes ativos de processos culturais.
Foi através dela que os brasileiros puderam mandar recados e demandas políticas e sociais por meio dos protestos de junho de 2013.
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