A convergência da inflação para o intervalo da meta estabelecida pela equipe econômica encontrará um entrave. Vinculados a índices de preços sensíveis ao câmbio e aos preços no atacado, os preços administrados provocarão uma onda de reajustes nos próximos meses que poderá comprometer a redução da inflação.
Cobrados por serviços monitorados, como energia, telefonia, medicamentos, água, educação, saneamento, entre outros, os preços administrados são reajustados periodicamente (geralmente uma vez por ano) conforme indexadores definidos em contrato ou negociados com o governo. Alguns aumentos já foram repassados ao consumidor e pressionaram a inflação no primeiro semestre, como no caso do transporte público. No entanto, diversos setores ainda não tiveram os preços corrigidos.
Segundo analistas econômicos, os preços administrados representam um risco real para o descumprimento da meta da inflação em 2011, que é até 6,5%. “Como temos uma indexação forte no Brasil, os preços administrados continuarão a pressionar a inflação, podendo afetar a desaceleração dos índices”, afirma o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo Antônio Corrêa de Lacerda.
De acordo com estimativas das instituições financeiras, divulgadas semanalmente no boletim Focus do Banco Central, os preços administrados devem subir 5% neste ano e 4,5% em 2012. Nas últimas semanas, as projeções estão estáveis, mas a previsão para este ano era 4,8% há dois meses e 4,5% há três meses. “Neste ano, os preços administrados devem subir o dobro em relação a 2010, portanto o risco de estourar a meta é bastante significativo”, diz o economista-chefe da consultoria Austin, Alex Agostini.
O principal motivo de alerta é que boa parte dos contratos administrados está vinculada ao Índice Geral de Preços (IGP), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Influenciado pelo câmbio e pelos preços no atacado, esse índice sobe mais do que a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em momentos de alta generalizada de preços.
Em janeiro, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que reajusta a energia e os aluguéis, atingiu 11,49% no acumulado em 12 meses. Ao longo do ano, o índice iniciou trajetória de queda, mas permanece acima da variação da inflação oficial. Em maio, o índice de 12 meses caiu para 9,76%, enquanto o IPCA do período somou 6,55%.
Também calculado pela FGV, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que reajusta vários contratos, chegou a ficar próximo de zero (0,01%) no mês passado. Apesar dessa desaceleração, os especialistas acreditam que os preços administrados continuarão a ser pressionados pelo IGP. “A desaceleração [do IGP] pode até ajudar no futuro, mas o fato é que esses índices chegaram a 12% no ano passado e teremos vários aumentos de tarifas nos próximos meses”, adverte Lacerda.
Para Agostini, ainda existem chances de que os preços administrados não influenciem tanto a inflação a ponto de estourar a meta. Esse cenário, no entanto, depende mais da conjuntura da economia do que da atuação do governo. “Além de continuar com o aumento dos juros, o Banco Central precisa ter sorte para que o dólar continue barato para amenizar os preços internacionais e não fazer a inflação se acentuar ainda mais.”
O economista do Banco West LB Roberto Padovani é mais otimista. Ele diz que os preços administrados representam risco para a inflação, mas não são o principal fator de preocupação. “O maior perigo são os preços internacionais, mas se as commodities [bens primários com cotação internacional] ficarem estáveis e a economia brasileira desacelerar, a inflação poderá fechar o ano dentro da meta”, diz.
Agência Brasil