Armando Correa de Siqueira Neto*
Como explicar a diferença evolutiva entre dois aspectos importantes do desenvolvimento humano: a tecnologia e a ética. De tempos para cá, por que um deslanchou e o outro caminha a passos morosos? Comumente ouve-se esse tipo de questão emergir nas rodas da convivência social.
É bem provável que boa parte da população mundial, ao longo dos séculos, teve bem pouco interesse em desenvolver a ética, haja vista, há tempos, já existir rico e considerável número de material pertinente. O pouco interesse é capaz de explicar, em parte, a razão de a ética ter permanecido atrasada em relação ao campo tecnológico, o qual foi priorizado demasiadamente e fez resultar enorme avanço.
Todavia, em tal análise é esquecido um aspecto crucial: a maneira pela qual se mantém em desenvolvimento uma determinada área. A sucessão de cada salto tecnológico é realizada através dos seus registros, investimento (incluindo-se o dinheiro) e da formação de sucessores que se desempenham tanto para manter quanto para ampliar cada projeto. Observe-se a escala ascendente de certos produtos (remédio, automóvel, telefone). Pela interessante continuidade, o homem mantém a evolução tecnológica. O conforto e o bem-estar são objetivos perseguidos vigorosamente desde tempos longínquos.
Portanto, boa parte da discussão focaliza-se no maior interesse sobre um dos dois aspectos, cuja transmissão do conhecimento acumulado é mais bem apreciada e enfaticamente transmitida de pessoa a pessoa, mantendo-se, assim, a sua escalada de forma permanente. Comparativamente, é semelhante a uma corrida de bastão, na qual os motivados e preparados atletas buscam garantir a continuidade e a vitória, por vezes, eles conseguem resultados ainda melhores que os anteriores.
No entanto, quando se trata do campo ético, a coisa é diferente. Urge iniciar tal averiguação pelos fatos mais evidentes. A ética é sabidamente adquirida através da compreensão íntima conquistada pela pessoa, podendo variar entre a simples obediência às leis e o estabelecimento de considerável consciência. Logo, a evolução ética depende praticamente da vontade e do pensamento crítico. Decorre que, dependendo do tipo de sociedade (com maior ou menor nível de corrupção) e do período em que ela se contextualiza, a motivação e o entendimento acerca de se desenvolver a ética poderão estar enfraquecidos. Ressalte-se, ainda, o que a psicologia já bem o revelou: o ser humano busca com maior vigor o prazer (nele, a injustiça pode estar contida) do que o desprazer (a ética, que normalmente causa trabalho e sacrifícios, notadamente a reflexão e a contenção de múltiplos desejos).
Então, o exercício e o desenvolvimento da ética estão relacionados ao desprazer, e em condição de dependência direta ao interesse existente em uma dada sociedade, e, mais especificamente, ao ser humano em sua singularidade, pois a ética é particular, embora ela possa influenciar a outrem oportunamente.
Ainda: com cada avanço obtido através da ética (embora tenham sido poucos até o momento) é possível inferir que o que resulta hoje acerca do assunto é o acúmulo possível, e, resta-nos, portanto, desenvolvê-la ainda mais e oferecer um melhor legado ético à descendência. Em que velocidade você caminha na estrada evolutiva da ética?
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected]