1º Grito do Café das Matas de Minas

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Por Devair G. Oliveira
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Com o objetivo de reivindicar uma atenção especial para a cafeicultura brasileira, cafeicultores de várias regiões de Minas Gerais marcaram presença no evento em Manhuaçu que ocorreu dia 13 de maio, na Praça 5 de novembro, parte central de Manhuaçu, organizado pela Câmara do Café das Matas de Minas, que tem como presidente Admar Soares. A principal reivindicação é abrir renegociações de dívidas e uma garantia mínima do valor da saca de café. Várias autoridades e produtores rurais se pronunciaram e vários cantores da região se apresentaram, finalizando com um show da dupla Lourenço e Lourival. “Enquanto muitos trabalhadores dos grandes centros protestam de maneira agressiva e quebra-quebras nós não sabemos fazer isso, a única coisa que sabemos é trabalhar nas lavouras, mas na passividade nunca conseguimos nada, quem sabe temos que aprender com os índios que vão para Brasília pelados de arco e flechas e conseguem suas reivindicações”, desabafou produtor Emídio do Sul de Minas.

Admar Soares Presidente da Câmara do Café

DSC_0057Os cafeicultores foram a Brasília com a missão de chegar até o ministério da fazenda, Casa Civil e o Ministério da Agricultura e lá estava o Emídio, Claudinei, e nós da Câmara do Café das Matas de Minas, onde o Marcelo Amorim esteve presente a todas as idas a Brasília, juntamente com a minha pessoa representando a agricultura familiar.

O presidente da Câmara do Café Admar Soares fez um balanço da atual situação dos cafeicultores de minas e da representatividade da Câmara do Café.“A agricultura familiar representa 80% da nossa produção, nos municípios das matas de minas. Toda essa agricultura familiar são para moradias, alimentos, filhos e para nossas famílias. Estão sobre o poder da Câmara documentos que foram entregue aos representantes nacionais em Brasília no mês de agosto de 2013, documentos que eu registro uma situação triste, 80% dos agricultores das matas de minas com dívidas liberadas pela agência bancária e cooperativa de crédito da fase de campanha no ano de 2010. Todos os cafeicultores aqui presentes assinaram um documento pedindo socorro, precisamos de renegociar nossas dívidas, pois apenas 3% dos nossos cafeicultores das matas de minas de 27 municípios assinaram os documentos. Temos nesses municípios 146 mil hectares plantados em café, temos 350 milhões de pés de cafés plantados, garantindo para o comércio local 200 mil empregos diretos”.Disse o presidente

No Triângulo Mineiro 100% do café é mecanizado e uma medida de café é vendido por menos de dois reais, e aqui nas matas de minas não fica para traz, uma medida não fica menos de 15 reais. A partir de hoje vão ouvir o nosso grito, essa história vai mudar e já está mudando, porque antes de subir ao palco eu recebi dois telefonemas que estariam aqui dois representantes do café nacional, deputado federal Aldair Cunha ligou e se colocou a nossa disposição nos dias 22 e 23 de maio. O Secretário Executivo do Ministério da Agricultura, também me ligou, colocando a disposição o departamento nacional do café para a Câmara do Café de Minas. Nos dias 21 e 22 de maio vão nos receber e receberão também a comissão do Sul de Minas. E porque não estão presentes aqui hoje? Alegaram que não estão presentes, pois foram convocados pela equipe do governo federal para receber os prefeitos do Brasil. Mas irão nos receber nos dias 21 e 22 de maio em Brasília. Eles não vieram aqui, mas os dirigentes da Câmara do Café irão lá.

“Ano passado saiu uma resolução para prorrogar as dívidas para 5 anos e dois anos de carência, nós não estamos com dez anos, mas quando chegou em 31 de janeiro de 2014 outra conquista nossa foi jogada por terra, pois colocaram uma data, 31 de janeiro, para que todos os agricultores fossem as agências bancárias para requerer o pedido de prorrogação das dívidas, chegando lá uma das funcionárias desconhecia a resolução e não aplicou a assinatura dos agricultores no requerimento, aí 70% dos agricultores não assinaram a documentação, agora nós temos que lutar por um fato novo . Foi passado para a Câmara do Café das Matas de Minas um documento aprovado pela Câmara de Deputados Federais no final do ano passado que diz o tema da prorrogação, quitação das dívidas dos agricultores e produtores rurais do norte do país. Foi aprovada pela Câmara dos Deputados em Brasília a medida provisória 623 618, lá a resolução renegociou as dívidas para 10 / 15 anos para todos os agricultores daquela região, e ainda com um desconto de 40% do montante antes de parcelar, baseado nessa negociação a câmara está com os documentos preparados. Estamos requerendo todas as dívidas vinculadas ao café desde o ano de 1995 até esta data, realizadas com cooperativas de crédito e agências bancárias, as negociações e prorrogações do montante da dívida, os 40% de descontos para parcelar com 15 anos , 3 anos de carência, e nossa proposta de quitação do montante da dívida com desconto de 70%”. Concluiu Admar

Produtor Emídio Alves Madeira Júnior
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O produtor rural Emídio é de Nova Rezende, do Sul de Minas Gerais, nasceu e foi criado na roça, sempre trabalhando, seu pai tem 74 anos. “Você Edmar às vezes fica meio triste, com a cabeça baixa, levanta a cabeça e não fica triste, só porque as autoridades convidadas não estão presentes. Aqui tem muita gente, e pessoas com qualidades, há mal que vem para o bem. O café é uma benção de Deus, representa muito e ele não vai acabar porque não vamos deixar. O café é tão abençoado que a colheita não é de ano em ano, ela é de 6 em 6 meses para ajudar ao apanhador de café e a comunidade. Ela começa em maio e o movimento da cidade já melhora, e ela vai até novembro, e terminando vai fazendo a varrição, apurando, limpando as máquinas, secador” .Explica Emídio.

Emídio pediu à imprensa que fotografasse o pé de café que estava no palco e detalhou cada característica apresentada pelas folhas, galhos e frutos, ele disse que gostaria que fosse mandada para o canal rural e para o IBGE, “a realidade é que o governo não gosta de ouvir o produtor, a CONAB prejudicou muito os produtores, o órgão do governo ano passado divulgou previsão de safra em 60 milhões de sacos e esse ano o café voltou para R$ 200,00 a saca, ela sacrificou os trabalhadores do campo, isso é covardia, pecado. A CONAB, não devia ter falado que iria produzir 60 milhões de sacas, por isso, o café voltou e muita gente vendeu o café a R$ 170,00. Veio o IBGE com a pesquisa pronta em dezembro e soltou só em fevereiro, a queda era de um milhão e meio de sacos, covardia do IBGE, o café recuou de novo. O café que será produzido o ano que vem só Deus sabe. A CONAB faz previsão do chumbinho da flor que vai produzir o ano que vem, porque eles não fazem uma previsão do que está no pé? Do que está nos armazéns do estoque mundial? Uma pesquisa completa e mostra para os produtores rurais. Vocês tem que mandar esse vídeo para o governo”. Disse Emidio

Segundo ainda Emidio o produtor rural da porteira para dentro sabe produzir, e da porteira para fora o governo passa rasteira para lá e para cá e derruba o produtor que não tem representante. Mostrando os galhos do pé de café Emidio explica: essas rosetas tinham que dar em média 16 grãos em cada roseta, esse pé de café aqui é o retrato do país, a seca judiou do café e não ajudou a granar, o aspecto vai ser inferior ao tamanho do grão, tem muito grão chocho, onde sete medidas dariam um saco de café, vão gastar 10 ou 12 .”Tem região que eu filmei dia 12 de fevereiro, já limparam e gastaram 29 medidas de café para dar um saco. Hoje as cooperativas estão filmando também e falando a realidade, mas o problema da safra esse ano não é o mais grave. Esse ano o café vai dar café com menos café, com mais catação. Muita gente não conseguiu adubar o café, umas por falta de recursos e outras por causa da chuva. Quem dava quarta adubação, deu duas mais ou menos, e muita gente perdeu o adubo que jogou na lavoura. Nessa lavoura a guia tinha que estar maior, as varas estão por cima da guia, ela está com deficiência de boro e zinco, e não cresceu, quando não crescem as varas ela não dá café. Quero falar para o governo que faltou a previsão de safra, agora eu quero ver o governo fazer a previsão para 2015. As lavouras não vão produzir, porque o que produz é a folha, e o café está sem folha e comprometido até 2016. Eu queria que o governo, o CONAB e o IBGE mostrassem agora a previsão para 2015, porque vai ser difícil. Tem muitas lavouras boas e a quebra é muito grande. Eu fiquei muito contente com a Câmara do Café no ano passado, porque fomos 11 vezes para Brasília, fizemos um palanque em Nova Resende e, não subiu um político em cima do palco. Há 15 anos atrás eles fizeram a marcha do café em Varginha, eu fui na marcha, eles coloca-ram uma fita isolante, dos 15 mil produtores nenhum subiu ao palanque para falar, 40 deputados fizeram um comício em cima do palanque . Em Nova Resende, nós fizemos o contrário, colocamos só produtores que não representavam nenhuma cooperativa em cima do palco. Fizemos uma comissão e fomos para Brasília, lá conhecemos o Admar Soares e a Câmara do Café, ele chegou e apresentou toda a documentação na hora em que mais precisávamos, e se conseguimos a renegociação das dívidas o Brasil deve muito a Câmara do Café. Nós vamos montar uma câmara do café no sul de minas e vamos somar as forças, nós vamos montar um escritório em Manhuaçu de janeiro em diante, e vamos proteger o cafeicultor, para não deixar o governo dar rasteira. O café é que ajuda o município, o estado e o país, e o homem do campo é esquecido e abandonado. Lidar com banco não é fácil, o negócio deles é dinheiro, então é muito difícil para o produtor rural. Quando vem chuva, ele olha para esposa, reza, acende uma vela pede a Deus, pede a santa Barbara para proteger, porque ele sabe que é só Deus quem protege.

Segundo Emidio os produtores necessitam que os políticos criem uma política para o café, para o produtor. Tudo depende do produtor, é do trigo plantado que se faz o pão para alimentar a humanidade, o produtor é que põe o leite, café, feijão e arroz, é os produtores é que tratam do mundo colocando o alimento na mesa. “Nós somos esquecidos, abandonados, estou falando a verdade e quem fala a verdade não merece castigo. Se fosse uma reivindicação dos índios que chegasse a Brasília seria atendida no mesmo dia, eles ficam pelados com flecha, eles não produzem, não pagam impostos, não geram empregos, eu respeito os índios, mas eles sabem fazer uma manifestação. Os metalúrgicos são a mesma coisa, já o produtor rural não sabe reivindicar, a única coisa que sabemos é trabalhar, vamos unir nossa forças e o próximo encontro que tiver traga seu vizinho, um amigo ou parente, vamos juntar forças para defender os nossos filhos e netos e fortalecer a Câmara do Café, para não deixarmos nossos filhos tomarem rasteira igual a nossos pais e a nós”. Desabafa Emidio

Mauricio de Oliveira

DSC_0059Já o produtor de café Maurício de Oliveira, diz da falta de uma política efetiva para o café de montanhas das Matas de Minas e então vendo essa situação em 2013 dado aquela quebra de preço no café,

os cafeicultores fizeram um movimento em Realeza um chamamento das autoridades e ao governo, um pedido de socorro para a cafeicultura e não aconteceu. O governo demorou muito a dar o preço de garantia que ele tem por obrigação.

“Nós esperávamos um valor de R$ 340,00 veio R$ 306,00 depois de muita demora. Naquela ocasião nós perdemos a safra de 2013 e para o cafeicultor perder uma safra não é fácil, eu digo isso porque todos nós vendemos café abaixo de R$ 200,00 ,tendo que vender café até R$ 150,00 o que não dá hoje nem para você apanhar uma saca de café e colocar no terreiro . A gente vai amadurecendo a ideia, dando algumas entrevistas, falando com o povo de modo geral, na verdade a coleta de 2014 eu já sabia que ela ia ser difícil, mas não tanto, e hoje infelizmente quem não perdeu a colheita é porque ainda não acabou de colher, e com isso o cafeicultor não terá condições de honrar com os seus compromissos, o governo acenou com taxas de juros razoáveis, financiou infraestrutura, investimento, financiou veículos, máquinas, mesmo esses financiamentos foram para sustentar os empregos nas industrias e nós fixemos isso na ânsia de melhorar a nossa vida, produzir mais, a gente tem que crescer e agora nós estamos com esses compromissos, sem condições de honrar, a culpa talvez não seja só do governo, mas também o clima, mas o clima é natural, e nós temos que enfrentar.O governo tem que fazer a parte dele, e infelizmente não tem sido feito.

Manhuaçu hoje na Zona da Mata mineira que inclui uma vasta região é a segunda cidade de arrecadação, comparando com Juiz de Fora, e isso é muito bom para engordar os cofres públicos. As cidades vizinhas também participam dessa arrecadação do mesmo modo, veja bem, Ubá é um município com mais de 100 mil habitantes, 400 indústrias no setor moveleiro e talvez outros tipos de indústria, talvez tenha também uma pecuária forte, e nós estamos a frente de Ubá, Cataguazes, Muriaé que tem um grande grupo de automóveis, um dos maiores do Brasil. Estamos a frente em arrecadação, então mostra que o café é forte. Eu tenho dito que sem o café Manhuaçu não é a mesma e nem a nossa região”. Concluiu Maurício de Oliveira

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