Como é a cidade-sede dos Jogos Olímpicos vista por dentro

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Professores do CPS descrevem vocação histórica para preservação do patrimônio cultural de uma das cidades mais emblemáticas do mundo, que agora recebe 15 milhões de visitantes
‌ Imagens aéreas de avenidas confluindo para o Arco do Triunfo fazem parte do nosso imaginário, assim como os muitos ângulos que exibem a Torre Eiffel. Esse traçado urbano começou a nascer no início do século 20 e se consolidou no gabinete de um prefeito. A capital francesa que conhecemos hoje é, em grande parte, herança da Belle Époque, que ocorreu mais ou menos de 1870 até o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Entre cerca de 1852 e 1870, George-Eugène Haussmann, prefeito de Paris, fez grandes reformas na cidade, criando largas avenidas arborizadas, parques e estações de trem. “O resultado é aquele cenário da Place de l’Étoile (Praça da Estrela), onde está o Arco do Triunfo e onde termina a luxuosa Avenue des Champs-Elysées”. Assim, Marcelo de Paiva, professor de História na Escola Técnica Estadual (Etec) Tiquatira, da Capital, descreve um dos lugares mais emblemáticos da Europa. Naquela época surgiu o movimento impressionista na pintura, que tornou célebres pintores como Edgar Degas (1834-1917), Claude Monet (1840-1926) e Auguste Renoir (1841-1919)”, continua o professor, formado em História, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Paiva viveu em Paris em 2018, enquanto realizava sua pesquisa de doutorado sanduíche (programa em que o doutorando faz parte dos estudos em outra instituição brasileira ou do exterior) na Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Vida contemplativa A vivência permitiu ao professor uma análise íntima da cidade que mais atrai turistas em todo o mundo. “Expressão do modo de vida urbano e burguês com suas galerias, cafés, óperas, teatros, parques, praças e monumentos, Paris vai se consolidando como a grande capital artística e científica do mundo, além de ser super agradável para caminhar a pé”, enfatiza. O glamour associado à capital-sede dos Jogos Olímpicos estaria, de acordo com o historiador, sedimentado menos no luxo e mais em um estilo de vida contemplativo. Paiva lembra as mesas dos cafés, com suas cadeiras voltadas para a rua e destaca a valorização da arte em qualidades urbanísticas que consolidaram a figura do flâneur, um pedestre urbano por excelência”, diz. A cidade proposta por Haussmann, no século 19, é semelhante à que os urbanistas defendem desde os anos 1960, e mais recentemente com o conceito de “cidade de 15 minutos”. De acordo com essa premissa, para oferecer qualidade de vida ao cidadão, uma localidade deve permitir que ele execute cada tarefa do dia se deslocando nesse espaço de tempo. O escritório, a creche e o mercado não podem estar distantes de casa mais do que um quarto de hora. Desenvolvido na mesma Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne em que Paiva estudou, o programa está sendo implantado em várias cidades do mundo, incluindo Paris, que já exibe há tempos essa vocação e onde apenas 300 metros, em média, separam as saídas de metrô. O flâneur moderno, resultado desse refinamento urbano, ainda mantém o espírito contemplativo e distraído que o poeta Charles Baudelaire já anunciava no século 19. A França na União Europeia Há várias surpresas no caminho que leva à compreensão do país, a começar pelo sistema político. “Os franceses criaram um sistema semipresidencialista”, explica o geógrafo Thiago Hernandez, professor da Etec Pedro D´Arcádia Neto, de Assis, da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) da mesma cidade e da Fatec de Presidente Prudente. “Os franceses elegem o presidente, que indica o primeiro ministro. No entanto, é preciso que o primeiro ministro seja aprovado pelo parlamento”, continua. “Quando o presidente governa com o representante de um partido de posições contrárias, ocorre o que se convencionou chamar de coabitação”, ensina. Em maio, o presidente francês Emmanuel Macron causou alvoroço ao dissolver o parlamento. O que soou para alguns como um golpe de estado, está dentro das normas do sistema político do país. “Ele havia perdido maioria de governança”, pondera o professor. A despeito de suas belezas naturais e arquitetônicas, o país enfrenta o envelhecimento acelerado da população, enquanto os imigrantes, que intensificam a força de trabalho e equalizam a baixa demográfica, sofrem com xenofobia e islamofobia.  “Hoje, 10% da população francesa é formada por imigrantes legalizados, sem contar os clandestinos. Entre os legalizados, quase metade vem de ex-colônias francesas, especialmente do norte da África”, avisa Hernandez, com uma ponta de ironia: “Os franceses parecem ter se esquecido do efeito maré: o que vai volta com intensidade”. Herói brasileiro O professor traça um breve raio-x sócioeconômico: hoje a França tem um endividamento público alto, mais de 110% do PIB, quando a meta dos países da União Europeia é de 60%. O desemprego é baixo, na marca de 7,5%. Com 10% de muçulmanos, o país predominantemente cristão (cerca de 63% da população é católica), está diante de um cenário inédito: um quarto da população não profetiza qualquer religião, característica que cresce entre os jovens de até 35 anos. Segunda economia da UE, atrás apenas da Alemanha, a França representa cerca de um quarto da produção agrícola do continente, produzindo de grãos e frutas a proteína animal. Ao lado de uma agroindústria forte, destacam-se as indústrias automobilística, bélica e aeronáutica. Hernandez aponta que o Airbus, maior avião do mundo, é um produto francês. E conta que a França teve uma grande influência na implementação dos estudos de economia agrária no Brasil. De nossa parte, demos a eles um ídolo cultuado em todo o seu território: Alberto Santos Dumont, que protagonizou, em 1906, em terras parisienses, o primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar – e sem a ajuda de equipamentos externos, como balões. O 14-Bis percorreu 220 metros em 21 segundos – o suficiente para que Santos Dumont se eternizasse nos ares franceses. Veja também:
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