Na década de 60, das dez Libertadores disputadas, os clubes brasileiros venceram duas com o Santos. No Mundial de Clubes, o Santos venceu os dois títulos que disputou. Em razão desse feito, até hoje é considerado, pelos brasileiros, o maior time de todos os tempos do planeta. Na década seguinte, uma Libertadores com o Cruzeiro em 1976, e nada mais. Nos anos 80, Flamengo e Grêmio venceram uma Libertadores e um Mundial cada. Só isso. No número de Libertadores, o Brasil só veio empatar com o Uruguai, com seus dois times, apenas com o título do Grêmio, em 1995. Tudo sustentado com o argumento de que os brasileiros não valorizavam a Libertadores, que esta não tinha muita importância para os clubes brasileiros clubes. Além das muitas supercopas.
Na década de 90, o Brasil venceu seis das dez Libertadores. Nunca década venceu mais do que nas três anteriores. Mas só venceu dois Mundiais, com o São Paulo. Mas aí começa uma peculiaridade de perdedores exímios de campeonatos internacionais, especialmente para os argentinos. Em 1994, o São Paulo disputava a única chance de um clube brasileiro sagrar-se tricampeão da Libertadores; perdeu em casa para o Velez Sarsfield da Argentina, que disputava seu primeiro título internacional e único que venceu até hoje. Bastava vencer por dois gols; faltou um. Em 2000, Palmeiras começou a década e em 2009 o Cruzeiro a encerrou perdendo os títulos pela falta de um gol. Santos, em 2003 e Grêmio, em 2007, perderam com facilidade, como os brasileiros costumam.
Para ficar no campeonato mais importante do Continente, está 5 X 0 para los hermanos nas últimas disputas entre os dois países.
O único campeonato que levamos vantagem é no Mundial de Clubes, exatamente devido à impossibilidade de disputa com os vizinhos. Os europeus não se amedrontam e vencem os argentinos tranquilamente. Tanto que no último confronto, em 2007, o Milan goleou o Boca Juniors por 4 X 1.
A partir de 2003 foi criada a Copa Sulamericana. Das sete até hoje, os brasileiros venceram uma, com o Internacional. Este ano, o Fluminense, de novo, perdeu por falta de um gol. Foi tudo para os seus jogadores serem aplaudidos de pé pela torcida e enaltecidos pela imprensa como heróis. Heróis de derrota? De mais uma perda de um título por um clube brasileiro? Só num país, cuja mentalidade e postura predominante é seu complexo de vira-lata, que foi tão bem definida por Nelson Rodrigues.
Mas, a cada campeonato perdido, os comentaristas repetem a cantilena de que lutaram muito, foram heróis e outras desculpas bem à brasileira. Para cada derrota, repete-se essa ladainha, como se lutar não fosse inerente à competitividade.
Com a quantidade de clubes e a dimensão deste país, só por isso, já deveria vencer ao menos duas vezes mais. E o argumento de que não valoriza é mera desculpa para amenizar sua inferioridade assumida e aceita. Mesmo com a certeza do vice, os estádios ficam lotados em todas as finais. Passou da hora de o Brasil acabar com esse heroísmo de derrotado, e passar a ser herói pelas vitórias. Por enquanto, os times brasileiros, em campeonatos internacionais, são como os do Norte-Nordeste em campeonatos brasileiros: vencem por acaso, vez ou outra. Mesmo assim, continuam os aplausos de pé e recebem título de herói. Normal, para quem já inventou até o tal campeão moral. O mal maior é que essa cultura da desculpa passa a todos os setores, devido a influência demasiada do futebol na sociedade brasileira.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito