Situações de guerra e o trabalho de médicos e demais profissionais da saúde em cenários de tragédia estão expostos nas fotografias da mostra Assistência à Saúde em Perigo – Líbia e Somália no Olhar de André Liohn. “Chocante. Impactou-me a mutilação das pessoas, a expressão de desespero, o movimento de um rapaz de 19 anos que dirige uma ambulância sem descansar”, disse o visitante Duílio Spada.
O jovem de 19 anos é Omar Al Guti, que trabalhou como motorista de ambulância voluntário durante o conflito na Líbia, em 2011. “Omar não queria pegar em armas, porque ele tinha medo”, contou o fotógrafo André Liohn. Mas ele queria participar de alguma forma, então começou a dirigir ambulância, resgatando vítimas do conflito.
“Aqui [na foto] era um momento em que estávamos esperando algum ferido, a situação era sempre de tensão, aqui Omar está bastante abatido, na espera do próximo paciente que eles teriam que resgatar”, descreveu. No mesmo dia em que capturou tal imagem, poucas horas depois, uma bomba caiu no local, matando dois jornalistas.
Ainda na Líbia, duas fotografias mostram integrantes de uma equipe de socorro após a morte de quatro colegas de trabalho – um médico, duas enfermeiras e um motorista de ambulância – devido à um ataque aéreo enquanto seguiam da cidade de Adjdabia para Brega, no ano de 2011.
Liohn contou como foram os momentos pouco antes da tragédia. Em Brega, de madrugada, os médicos foram informados de que o Exército do ex-presidente Muammar Khadafi invadiria a cidade. O fotógrafo estava junto com os profissionais de saúde e todos precisaram fugir. Uma parte da equipe estava com medo de acender as luzes das ambulâncias, porque isso poderia chamar a atenção do Exército. Naquele momento, André alertou a equipe de que aviões da Organização do Tratato do Atlântico Norte (Otan) sobrevoavam a região como forma de proteção, que veriam um comboio de carros à noite, com as luzes apagadas, como ameaça, e que havia a chance de serem bombardeados.
“O grupo que foi na frente, com as luzes apagadas, foi bombardeado por um avião da Otan, eu não sei de qual país. Eu estava nessa ambulância de trás [com as luzes acesas]”, disse. “Esse motorista [retratado na foto] tinha entrado em uma briga quase física com o motorista da ambulância que morreu. Eles haviam discutido por ter ou não a luz acesa. Então, naquele momento [da fotografia], ele estava num choque emocional bastante forte”, descreveu.
Já na Somália, em 2010, André retratou o doutor Mohamed Yusuff, nascido no país, mas que fez sua carreira médica na Europa. Após aposentar-se, ele retornou à capital Mogadíscio para trabalhar em um hospital que estava fechado e em ruínas. No ano de 2009, Yusuff sofreu um atentado na Somália, quando seguia de casa para o hospital. “O carro dele foi completamente destruído e ele não morreu nem se feriu por uma sorte muito grande”, contou André. Desde então, o médico se mudou para o hospital, onde mora até hoje, e tem 24 horas de proteção de uma escolta armada.
O público pode conhecer histórias de guerra e dos profissionais da saúde em meio a esse triste cenário nas 70 fotografias que estão expostas na Biblioteca do Parque Villa Lobos, em São Paulo. A mostra integra o projeto do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), chamado Assistência à Saúde em Perigo, que tem o objetivo de melhorar a segurança e a prestação de serviços de saúde em situações de conflito armado em todo o mundo.
Agência Brasil