Reportagens sobre igualdade racial poderão concorrer a prêmio que leva nome de jornalista e ativista negro. Reportagens sobre temas relacionados à população negra podem ser inscritas até 19 de agosto no 1º Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, que vai contemplar as melhores coberturas em sete categorias. O prêmio foi lançado na última terça-feira (10), no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Abdias, ativista histórico da luta contra o racismo, ex-deputado federal e ex-senador, foi representado pela esposa Elisa Larkin Nascimento. Aos 97 anos, ele se encontra internado no Hospital dos Servidores do Estado (HSE), na zona portuária do Rio. “Esse prêmio é uma oportunidade para corrigirmos uma situação de profundo desequilíbrio em todas as áreas da imprensa, que resulta na falta de informações sobre a desigualdade racial”, afirmou Elisa, diretora do Instituto de Estudos e Pesquisas Afro-Brasileiros (Ipeafro), fundado em 1981. A entidade é uma das patrocinadoras do prêmio, iniciativa da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio). Além de homenagear um ícone no combate ao racismo no Brasil, o prêmio simboliza, para seus criadores, o reconhecimento de uma nova era no jornalismo brasileiro, marcada pela democratização e pluralidade de temas. “A partir de 2001, com a realização da Conferência Mundial contra o Racismo, na África do Sul, o Brasil vem amadurecendo a abordagem dos temas relacionados à população negra, como a política de ações afirmativas. Esse amadurecimento tornou possível um prêmio como esse”, disse a jornalista Angélica Basthi, coordenadora da Cojira-Rio. Nascido em 1914, em Franca (SP), Abdias Nascimento começou cedo sua luta pela igualdade racial. “Em 1936, ele foi preso por protestar contra a exigência de entrar numa boate da capital paulista pela porta dos fundos, por ser negro”, lembra a esposa Elisa. Em 1944, já vivendo no Rio de Janeiro, ele fundou o Teatro Experimental do Negro. Marco na luta pela cidadania do artista negro, o grupo contribuiu para a formação profissional de dezenas de atores. O jornal Quilombo, criado por Abdias em 1947, já abordava questões que só bem mais tarde foram concretizadas em políticas públicas no Brasil, como recorda Elisa Nascimento. “O jornal lutava por reivindicações que haviam sido apresentadas na Assembleia Constituinte de 1945, como a questão da igualdade racial e a ideia de ações afirmativas, que somente agora vemos acontecer de verdade no Brasil”. Jornalista, escritor, dramaturgo e artista plástico, o ativista sofreu pressões durante a ditadura militar e se exilou por 13 anos nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, Abdias Nascimento ingressou na vida política, tendo sido deputado federal, nos anos 80, e senador, de 1997 a 1999. As categorias contempladas pelo prêmio são mídia impressa; televisão; rádio; internet; mídia alternativa ou comunitária; fotografia e especial de gênero. Entre os assuntos sugeridos para as matérias que poderão concorrer à premiação estão saúde da população negra, intolerância religiosa, juventude negra, ações afirmativas, empreendedorismo, desigualdades, direitos humanos, relações raciais, políticas públicas, comunidades tradicionais e discriminação racial. A cerimônia de premiação será realizada em novembro, no Rio de Janeiro, em local e data ainda a serem confirmados. O vencedor de cada categoria receberá R$ 5 mil. Maiores informações podem ser obtidas no site do prêmio.
Agência Brasil