Ed motta lança Perpetual Gateways

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ed motta 2De uns anos pra cá, as declarações de Ed Motta têm chamado mais atenção dos brasileiros que suas canções. No Facebook, ele criticou, por exemplo, o brasileiro que assiste aos seus shows no exterior e fica pedindo o velho hit Manuel. Segundo Motta, o europeu, público que acompanha sua carreira com atenção, é “mais culto, informado”, enquanto tem outra turma “mais simplória, que nunca me acompanhou no Brasil, (…) que vem beber cerveja barata com camiseta apertada tipo jogador de futebol, com aquele relógio branco, e começa gritar nome de time”.

Ed motaDo “relógio branco” ao “simplório”, as palavras do carioca de 44 anos geraram uma onda de críticas que agora ele responde na forma de um disco ainda mais sofisticado. Perpetual Gateways nasceu de um convite do selo alemão Membran já com seu conceito pronto: seria um disco em inglês gravado nos EUA. E foi na Califórnia que o brasileiro se cercou de virtuoses para registrar um repertório 100 % autoral.

“O conteúdo, que é o mais importante, são as minhas composições, coisas que faço no Brasil. Já a banda foi bolada junto com o produtor (Kamau Kenyatta) pensando em figuras que conheço através de encartes e outros de quem tenho os discos”, explica Ed Motta. Entre os músicos selecionados, lendas como Hubert Laws (flauta) e Greg Phillinganes (teclados), e outros jovens nomes.

Com esse time, Ed apresenta 10 faixas inéditas divididas em dois momentos. O “lado A”, batizado de Soul Gate, traz cinco faixas feitas a base de suingue, grooves e maciez. No “lado B”, o Jazz Gate, está um festival de improvisos espalhados em faixas que chegam a passar de sete minutos. Nas duas metades, Ed Motta solta o verbo com uma liberdade autoral nunca vista antes. “Mesmo nas faixas que tem o soul, tem o elemento do improviso, o colorido jazzístico”, confirma o músico.

Ao contrário do radiofônico AOR, em que cada faixa passou por uma minuciosa pós-produção, Perpetual Gateways é um retrato mais instantâneo da música de Ed Motta. “Eu cheguei com tudo escrito pra banda e metais e ele foi gravado até com bastante tempo, perto do que é padrão de jazz”, avalia. Mas ele lembra que as partituras eram guias para composições onde cada músico poderia criar à sua maneira. “Isso é o jazz, todo mundo tem que entrar na sua coisa”, pontua Ed.

Longe das investidas pop dos Manuais Práticos e mais corajoso que o instrumental Dwitza, Perpetual Gateways é o que se consegue quando se reúne grandes músicos em torno de um repertório valioso. A metade soul tem melodias sedutoras à primeira audição (Captain’s Refusal) e rasgos funkeados (Heritage Déja Vu). E a metade jazz é feita de inspirações não tão óbvias em Coltrane (Forgotten Nickname) e Miles Davis (A Town In Flames). E é nesta segunda metade que está a porção mais intrigante do 12º álbum de Ed Motta. Pegando The Owner como exemplo, a passagem do solo de piano de Patrice Rushen para o trompete de Curtis Taylor é digna de palmas. Curiosa e infelizmente, a lista de músicos não está detalhada na edição nacional do disco. Um pecado imperdoável diante desse encontro de versatilidade, virtuose e liberdade musical.

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