Revendo antigos recortes de jornal, releio duas notícias de um jornal que agora só existe online. De datas diferentes, os dois recortes falam de músicos da MPB.
O primeiro citava Luiz Melodia, ao lançar um disco na praça. A crítica dizia: “[Melodia] saiu de um casebre no Morro do Estácio para se tornar um dos compositores e cantores mais respeitados do Brasil… [ele] diz que só escapou da violência das favelas por causa dos valores rígidos da família, da Igreja Batista” (Jornal do Brasil, 21-12-97).
Melodia reconheceu ter sobrevivido graças aos “valores rígidos” da Igreja. Num tempo de valores frouxos e igrejas de brincadeira, a referência do cantor à Igreja Batista soa como um incentivo a prosseguirmos pregando vida santa, que o mundo vê como “valores rígidos”. Conclui-se que se todas as famílias abraçassem tais valores, muitos outros jovens escapariam da violência, tanto no morro, quanto no asfalto.
O outro recorte é sobre o compositor Cartola, ou Agenor de Oliveira. Uma pianista clássica, Lilian Barretto, foi categórica sobre o ex-pedreiro: “Cartola era um clássico. Intuitivamente ele tinha noção de repouso, tensão, encaminhamento das frases e da forma sonata, que tem um tema, um desenvolvimento, um segundo tema e um retorno ao primeiro tema” (Jornal do Brasil, 04-01-98). Como entender que “sua música e seus versos eram de uma sofisticação de gênio”, perguntava-se o amigo Elton Medeiros? Também músico, Medeiros tira do bolso uma explicação perfeitamente razoável para quem conhece um mínimo dos mecanismos do processo criativo: “… tanto ele, [Cartola] como eu, somos de uma geração que foi acostumada a entrar nas igrejas e ouvir Handel, por exemplo. Inconscientemente, talvez, assimilamos nuanças dessa música”.
Pois é: música de igreja é tão boa que contribui até para a formação intelectual das pessoas! Nessa véspera de aniversário, pensemos nisso!
Pr. João Soares da Fonseca