Na década de 20, – contava Paulo Maia, – esta igreja abriu uma congregação no Morro da Providência, atrás da Central do Brasil. O responsável era o diácono Hermenegildo Júlio de Sant’Anna, homem de oração, bom pregador, ex-escravo, nascido em 1848. Já havia então problemas no morro causados pelo álcool.
Um dia, partiu uma ordem, não se sabe de quem, proibindo os crentes de subirem o morro. Serra Grande, o chefão, era, na verdade, um chefinho, já que era um baixinho, paraibano, mas com fama de matador no Nordeste.
Hermenegildo subiu, e nada aconteceu. Até que um dia, depois do culto, os crentes foram abordados pelo grupo de Serra Grande. Houve discussão, e Serra Grande, com uma faca, ia ferir Hermenegildo. Mas o ex-escravo, por causa da idade, usava uma bengala de madeira. Instintivamente, em defesa própria, deu uma bengalada no pescoço de Serra Grande, que, tonto, saiu dali xingando e prometendo vingança.
Quinze dias depois, Serra Grande passeava diante da congregação, e a um convite, entrou. Hermenegildo pregava sobre o cego de Jericó. Cantou-se “Deixa a luz do céu entrar”. Quatro pessoas se entregaram a Cristo. Animado pelo resultado, o diácono pediu que se cantasse também “Oh, quão cego eu andei…”. De repente, Serra Grande foi à frente, jogou a faca no chão, ajoelhou-se, “chorando convulsivamente”. Acabado o hino, publicamente confessou os seus pecados contra Deus, contra a esposa e contra outras pessoas. Enquanto falava, a companheira, emocionada, também foi à frente e o abraçou, dizendo: “Eu também quero ser crente, mas só depois de ver Serra Grande transformado”. Logo Serra Grande seria batizado.
O pastor pediu aos crentes que evitassem falar da bengalada com o novo irmão, e que não o chamassem mais de Serra Grande. Em vão, porém, porque até o pastor, à hora do batismo, teria dito: “Mediante a tua profissão de fé, irmão Serra Grande, eu te batizo em nome do Pai, do Filho…”.
Pr. João Soares da Fonseca