Em 1986, quando vim pastorear aqui no Rio de Janeiro, o coro da Primeira Igreja Batista de Cascadura cantava um hino que me emocionava, cuja primeira estrofe dizia: “Muitas vezes, quando ao peso de desgostos / Nosso alento nós sentimos fraquejar / E em pranto procurávamos conforto, / Um sussurro perto ouvimos murmurar”. Até aqui o coro, obedecendo à instrução da compositora, cantava em ritmo Andante, isto é, nem muito devagar nem muito depressa. Mas quando chegava ao estribilho, o ritmo mudava para Allegretto. E o regente acelerava: “Esta lágrima, esta lágrima Deus limpará. / Lá na terra de esplendor, / contemplando o Senhor. Esta lágrima, Ele limpará”. Um dia, perguntei ao regente quem era o autor daquele hino. E ele me respondeu com um nome que eu então desconhecia: Eudora Pitrowsky Salles.
Em 2006, quando Deus me trouxe para esta Igreja, trouxe também, por carta de transferência, a irmã Eudora Pitrowsky Salles e seu esposo. A convivência com a autora do hino me inspirava tanto quanto a composição. E dentro de mim, a mensagem do hino retornava com mais vigor:
“Muitas vezes, quando dúvidas terríveis / Assaltavam nossos corações em dor. / E as tristezas parecendo sufocarnos, / Nestas horas nós ouvimos o Senhor”.
E a terceira estrofe: “Muitas vezes, quando ao darmos a mensagem / De um Jesus que padeceu pra nos salvar. / E o seu nome com amargura rejeitado, / Nós sentimos outra lágrima a rolar”. E a quarta: “Quantas vezes, em caminhos percorridos, / Vimos frutos mui preciosos a surgir, / De um labor constante, farto e espinhoso, / Muitas lágrimas vertemos ao sorrir”.
Na semana passada (05/09/2014), Deus a tomou para si. Aos 91 anos, mas ainda acompanhando as apresentações de suas cantatas, Eudora mostrou que é possível envelhecer sem perder o bom humor. Fazendo jus ao étimo de seu nome, Eudora foi um “ótimo presente” de Deus a todos nós! Que o Senhor abençoe entre nós a memória de Sua serva
Pr. João Soares da Fonseca