Olhando os Lírios do Campo

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Li de uma senhora russa que visitou o Canadá no tempo da Guerra Fria. Naquela época, os comunistas infernizavam tanto a vida das pessoas na então União Soviética, que elas viviam literalmente fugindo da grande prisão em que o império se tornou, indo para a Europa ou para a América. Mas um dia essa senhora teve a oportunidade de visitar o Canadá. Ficou deslumbrada com tudo o que via. Por isso, os amigos esperavam que ela fosse pedir asilo e radicar-se naquele país. Mas surpreendentemente, ela preferiu retornar à sua terra. Quando lhe perguntaram por que não quisera ficar no Canadá, ela respondeu que os ocidentais estavam ocupados demais com as coisas materiais e que não se preocupavam muito com o relacionamento entre as pessoas.

Jesus tirou o foco das coisas daqui, perecíveis como são, e nos mandou olhar para cima: “…a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12.15). Definitivamente, viver não é possuir. Você conhece alguém que não fala noutra coisa a não ser em ganhar dinheiro? Isso é materialismo.

No famoso romance de Erico Verissimo Olhai os lírios do campo, publicado em 1938, o personagem Olívia diz para Eugênio:

“Quero que… leias apenas o Sermão da Montanha… Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles”.

“Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu” (Ediouro: p. 176)

Pr. João Soares da Fonseca

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