A sabedoria de Deus ensina: “Melhor é o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32). E também: “O homem iracundo suscita contendas” (Pv 15.18). Esse “iracundo” é tradução de hemá que, em hebraico, significa “esquentado, quente”. Como na paráfrase da Bíblia Viva: “O homem de gênio violento está sempre arranjando brigas…”.
Sem dúvida, a perda da compostura e o destempero no trato com as pessoas prejudicam excessivamente o testemunho cristão. Aprecio a concisão de Tiago, quando diz: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar” (Tg 1.19). Os crentes devemos ser pessoas com ouvidos para ouvir tanto as alegrias como as queixas alheias, sem a pressa de dar opinião e, principalmente, cautelosos em nossas reações.
Já o indivíduo embezerrado, suando ódio, decididamente está com problemas. Aliás, ele mesmo é um problema. Para si, para sua família, para sua igreja, para sua denominação e para seu Deus. Como afirmou Ingersoll, “a ira é um vento que apaga a lâmpada do entendimento”. Isto é, o rancor estupidifica, bestializa, embrutece, descerebra… e o que mais se queira dizer desse processo selvagem de brutificação da criatura humana. “Nada abaixa mais o nível de uma conversa do que elevar a voz”, ensinava Rousseau.
Ao proclamar “O Senhor é o meu pastor…” (Sl 23.1), declaramos a nossa condição de ovelha. E é sabido que ovelha não agride, não persegue, não se vinga. Mas pelo modo como muitos se comportam, a impressão é que não são ovelhas mas touros bravos, temidos como aqueles que, de vez em quando, fogem pelas ruas da Espanha e causam tanta confusão. Crentes bravos assim deveriam ser proibidos de dizer o Salmo 23. Em vez disso, que lhes fosse permitida uma variante textual que criaram com seu próprio modo de vida e que seria: “O Senhor é o meu toureiro…”. Infelizmente! Que o Senhor nos ajude a dizer: “O Senhor é o meu pastor”.
Pr. João Soares da Fonseca