No ano 2000, Michel Têmer era o presidente da Câmara dos Deputados. Naquele ano, ele teve um problema no nariz, que precisou de uma cirurgia corretiva. A imprensa falou tanto desse nariz que o dono dele disse ao jornalista Márcio Moreira Alves lamentar o fato de que a mídia desse destaque ao irrelevante e silenciasse diante do que é importante, e contou: “Veja o meu caso: não fumo, mas tinha um pigarro forte e roncava muito à noite. Fui fazer um exame com um otorrino, que constatou que um desvio de septo e um ossinho fora do lugar no nariz eram as razões tanto do pigarro como dos roncos. Era coisa fácil de se resolver cirurgicamente. Fiz a operação, alguém contou para a imprensa, saiu nas revistas, deu na televisão e até os transeuntes que cruzo no trânsito de São Paulo, quando me reconhecem, levantam o polegar e apontam para o meu nariz. Enquanto isso, ninguém fala de termos conseguido um acordo entre todos os líderes para votar a reforma do Judiciário (…) Acho que estamos dando preferência às discussões sobre o pontual e esquecemos o conceitual” (cf. O Globo, 30-01-2000).
Não é só a imprensa que comete esse erro. Todos nós, uns mais, outros menos, temos critérios às vezes estranhos para avaliar pessoas, fatos e situações. A contradição faz parte da nossa humanidade, por mais racionais que tentemos ser. Precisamos, porém, aprender a identificar o que é importante e o que não é. Precisamos descobrir o que merece as nossas energias e o que pode ser deixado para outra pessoa fazer. O filósofo americano Ralph W. Emerson já advertia: “Os que se dedicam demais a coisas pequenas quase sempre se tornam incapazes das grandes”.
Muitas vezes, na família, no trabalho e mesmo na igreja, supervalorizamos o periférico e esquecemos o que é central. A sabedoria consiste em separar uma coisa da outra, dando prioridade ao essencial.
Pr. João Soares da Fonseca