Antes de jogar fora um jornal algo amarelecido, passo os olhos no Obituário, página em que se publicam os nomes dos que morreram. Geralmente são convites para missa de sétimo dia, que é prática entre os católicos romanos. Prática que a Bíblia não autoriza e que a própria natureza do evangelho considera inútil.
Um dos anúncios era diferente: trazia o título Agradecimento. Uma família judia estava agradecendo “Ao Corpo Médico, Enfermagem, Fisioterapia e funcionários do Hospital, das unidades coronárias, C.T.I., semi-intensiva, pelo zelo, carinho e eficiência com que cuidaram de Judith B., ao longo de sua enfermidade. Um agradecimento especial ao Dr. (…) pela dedicação e competência”. Na mesma página, porém, vinha outro anúncio, da mesma família, comunicando o falecimento de Judith B.
Vamos tentar entender: a família agradecia ao hospital o cuidado que teve com a enferma. Mas a enferma não sobreviveu.
Normalmente ouvimos falar de gente revoltada contra o hospital, contra o médico, contra as circunstâncias em torno da morte de alguém que estava internado. A família judaica, porém, chama-nos a atenção para o fato de que é possível expressar gratidão, mesmo nas horas mais lastimosas da existência.
Um outro judeu, há séculos, escrevia uma carta aos seus irmãos espirituais, dando um conselho que muita gente reluta em atender: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts 5.18). Se alguém, lendo apenas o Antigo Testamento, pôde aprender essa lição, por que não podem fazer o mesmo os seguidores do Novo?
Confesso que tenho medo de gente que não sabe agradecer. Para mim, os ingratos são pessoas perigosas. É tarefa exigente lidar com quem, ao receber um favor, acha que quem o fez não fez mais que obrigação; gente que jamais diz “obrigado” e só sabe reclamar. Que tal virar esse jogo e passar a agradecer a Deus até mesmo as coisas menos celebráveis?
Pr. João Soares da Fonseca – [email protected]
Inútil ou não, como católica continuo rezando pelos mortos. Minha Bíblia me autoriza, justamente em um dos livros que o protestantismo excluiu.
Quanto a gratidão, concordo. Coitado daquele que não consegue perceber a grandeza da ajuda recebida.