É gravíssima a situação do pecador sem Cristo. É como alguém que resolve passear num terreno minado, sem saber que um passo em falso pode pôr fim à sua vida. É como um doente num país sem médico e sem remédio.
Na Idade Média, um escritor dominicano chamado Jacobus a Voragine (1230-1298), arcebispo de Gênova, deu asas à imaginação e ilustrou brilhantemente a condição desesperada do pecador. No conto, intitulado A Lenda de São Barlaão e São Josafá, Voragine conta de um homem em perigo. A história, evidentemente fictícia, foi recontada pelo escritor russo Liev Tolstói. Eis o resumo da trama:
Um homem está fugindo de um unicórnio. Na versão de Tolstói, o homem está fugindo de um tigre. Tanto faz. Com medo de ser devorado, o homem corre e se joga num abismo profundo.
Em sua queda, consegue agarrar-se a uma árvore e põe os pés numa saliência de rochedo resvaladiço, pouco estável.
Olhando para cima, vê dois ratos, um branco e outro preto, que roem sem cessar o ramo a que ele se agarra. Olhando para baixo, para o fundo do abismo, avista um dragão pavoroso, que vomita fogo. De garganta escancarada, parece ávido de o tragar. Por fim, no espaço tão estreito em que se lhe apoiam os pés, percebe as cabeças de quatro víboras (cf. BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio e RÓNAI, Paulo. Mar de Histórias, Antologia do Conto Mundial. 1º vol., p. 172).
Será que é possível contemplar a situação catastrófica de multidões em perigo espiritual semelhante e nada fazer? Em Jeremias lemos uma pergunta a que a igreja precisa responder: “Como podes estar quieta, se o Senhor te deu uma ordem?” (Jr 47.7). Intrigante mesmo: como podemos descansar, se o mundo morre na escuridão do pecado?
Como podemos dormir sossegados, se multidões caminham para o inferno? Como podemos dizer que obedecemos à ordem que recebemos do Senhor: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15)? Como?
Pr. João Soares da Fonseca