Um rabino norte-americano, Joseph Telushkin, escreveu um livro de meditações diárias para um ano inteiro. Numa delas, ele menciona Billy Graham. Chama-o de chasid shoteh, “bobo piedoso”, em hebraico. E diz por quê.
Em 1982, a União Soviética ainda era o “império do mal”, como dizia Ronald Reagan. Muitos crentes estavam ali encerrados nas prisões por praticarem a sua fé. Então Billy Graham visitou o País, e nas igrejas pregou: “[Deus] dá a você o poder de ser um trabalhador melhor, um cidadão leal, porque Romanos 13 nos manda obedecer às autoridades. (…)”.
O rabino não concordou: “Tenho grande respeito por outras atividades do Reverendo Graham, mas especialmente por causa da importância dele, a gafe que ele cometeu na União Soviética teve ampla repercussão. Como será que os opositores cristãos ao regime comunista na União Soviética se sentiram quando o mais famoso cristão da América lhes ensinou que Deus queria que eles obedecessem às suas iníquas autoridades?” (TELUSHKIN, J. The Book of Jewish Values. New York: Bell Tower, 2000, p. 205).
Talvez a reação do rabino seja um reflexo dos horrores do Holocausto, que continua sendo um enigma. Mas daí a chamar Billy Graham de “bobo piedoso” vai enorme distância. Billy não fez mais que pregar a Palavra de Deus, que ensina isso mesmo em Romanos 13. Diante da tirania, os homens têm duas opções: resignar-se e sofrer, ou revoltar-se e derramar sangue. A ética divina, porém, é dotada de uma terceira via que a incredulidade desconhece: a oração. Foi em resposta à oração que Deus desceu e livrou os israelitas da mão de Faraó (Êx 3.7,8). Os crentes russos oravam, e o muro caiu sem guerra alguma em 1989, portanto, sete anos depois da visita. Se Billy Graham tivesse insuflado o povo russo à rebelião armada, a história hoje seria outra. Jesus estava certo: “Bem-aventurados os pacificadores…” (Mt 5.9). O caminho da violência não é o caminho de Cristo.
Pr. João Soares da Fonseca