Segundo o calendário cristão, domingo, 24/05, celebramos o Pentecostes. Uma data inicialmente histórica e simbolicamente ligada ao festival judaico da colheita, que posteriormente se tornou a comemoração do dia em que Deus se revelou ao povo hebreu por intermédio das Tábuas da Lei dadas a Moisés no Monte Sinai (Ex 23.14-17; Lv 23.15-21; Dt 16.9-12). Dessa forma, os judeus se reuniam todos os anos para rememorar aquele feito maravilhoso, contados cinquenta dias após a Páscoa.
Exatamente no dia de Pentecostes, os seguidores de Jesus estavam congregados em Jerusalém, esperando o cumprimento da promessa, conforme a recomendação do próprio Ressuscitado, quando, de repente, como relata a narrativa de Atos 2, veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa e todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas.
É óbvio que nessa história há uma riqueza enorme. Mas quero destacar apenas um aspecto. Essa experiência de empoderamento dos homens e mulheres para o cumprimento da missão de Deus (Missio Dei) se dá num ambiente de diversidade. O grupo reunido em Jerusalém era composto por muitas mulheres que perseveraram em oração juntamente com os apóstolos (At 1.13,14). Além disso, outro fato que chama atenção é que o derramamento do Espírito não acontece no templo, nem numa sinagoga, mas numa casa de chão batido. E, ainda, tem como objetivo o anúncio das boas-novas a pessoas de todos os lugares. Basta lembrar que naquele dia havia em Jerusalém gente da África, da Ásia Menor, da Europa e de tantas outras regiões.
Pensando nesse cenário, pergunto: Não parece significativo que o milagre do Espírito aconteça precisamente num momento em que a presença feminina se faz sentir? Não é expressivo que o Espírito tenha vindo sobre aqueles homens e mulheres num lugar tão simples e inclusivo, sobretudo quando comparado à exclusividade do templo, marcado pela hierarquia? Não é espantoso que tal derramamento tenha também como meta alcançar aqueles judeus da diáspora, que não falavam mais o hebraico, e eram considerados como impuros por outros judeus?
Pois bem, a conclusão é simples. Não há lugar para a presença do Espírito onde não há espaço para as diferenças, onde não nos tratamos como irmãos. Ora, o ambiente do Espírito é aquele em que a multiplicidade está instalada e é vivida na fraternidade. Tal tarefa está muito mais próxima de nossas mãos do que pensamos. Somos capacitados por Deus para construir um lugar existencial acolhedor para ambos os sexos, as diferentes faixas etárias e para todas as classes sociais. Num mundo obcecado pela uniformização, padronização e segregação, nossa tarefa urgente, como igreja, é a de preservar a unidade sem apagar o brilho das diferenças. Afinal, das muitas línguas que falaram aqueles homens e mulheres a mais importante foi a língua do amor.
Que sejamos uma comunidade ventilada e arejada pelo sopro divino, O Espírito de Deus!
Pr. João Soares da Fonseca