Se o estresse faz mal à saúde, podendo causar uma série de doenças graves, também contribui para trazer mais riscos à vida das pessoas que não controlam suas emoções no trânsito. A disputa pelo espaço no asfalto e discussões por motivos bobos podem causar acidentes graves e até mesmo incitar o cometimento de crimes contra a pessoa, como agressões físicas e assassinatos.
Algumas pesquisas do National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), órgão que regulamenta o trânsito seguro nos Estados Unidos, listaram comportamentos de risco dos motoristas. A agressividade ao volante, expressa por momentos extremos de raiva e de violência, causa diversas ocorrências em todo o mundo. Especialistas denominam essa fúria ao volante de road rage.
“A condução agressiva tornou-se um problema sério em nossas estradas”, alerta o órgão norte-americano. Segundo o NHTSA, esse tipo de condução ocorre quando um indivíduo, em consequência de comportamentos agressivos, dirige um veículo colocando em risco a própria vida e a de outras pessoas.
O condutor que se sente extremamente estressado em função do comportamento de outros motoristas e que promove uma disputa no trânsito, acelerando de propósito para não dar passagem, é portador de um comportamento agressivo perigoso. Ignorar gestos e ofensas e tentar sair do caminho de motoristas estressados são boas alternativas para evitar maiores transtornos, conforme alerta o NHTSA.
O órgão norte-americano também sugere que os motoristas evitem o olho no olho com alguém que esteja parecendo querer uma briga no trânsito. Planejar o caminho, identificar rotas alternativas, ouvir música ao volante e não ficar trocando de faixa (costurando no trânsito) são atitudes positivas para evitar o estresse.
É difícil ter estatísticas precisas sobre as ocorrências no trânsito que são causadas pela fúria ao volante. Mas os casos acontecem, diariamente, nas mais diferentes cidades. Recentemente, um motorista enfurecido deu um tiro nos pneus de um carro da reportagem do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O motorista de um Uno teria iniciado uma provocação, acelerando e freando na pista. O fotógrafo do jornal registrou a atitude, e o motorista do Uno atirou contra o veículo, sem ferir ninguém.
“Nesse comportamento, definido como road rage, o motorista se sente furioso em situações simples, reagindo de maneira despropositada. Uma fechada no trânsito desencadeia uma agressividade muito grande”, comenta o médico Mauro Augusto Ribeiro, especialista em medicina do tráfego e conselheiro da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
O médico explica que em muitos casos o trânsito reflete a personalidade do motorista. Mas há uma série de fatores que contribuem para desencadear comportamentos agressivos, como os engarrafamentos gigantescos que restringem as pessoas e geram, muitas vezes, comportamentos anormais. O contato com o outro ser humano é muito intenso no trânsito, elevando o risco de estresse.
“Vivemos um conflito porque estamos no espaço público, mas os veículos são um espaço privado. Então, cada um quer receber no trânsito um tratamento individual, como se estivesse dentro da própria casa. Isso gera inúmeros conflitos de interesse pessoal e de interesse coletivo, levando, muitas vezes, a reações impróprias”, diz Ribeiro.
De acordo com o médico da Abramet, há um descontentamento geral que pode ter origem em outras esferas da vida da pessoa. Mas esses descontentamentos acabam sendo evidenciados no trânsito, onde as pessoas trafegam simultaneamente.
Agência CNT – arte da imagem Arte: Paulo Soares