Minutos depois de Félix (Mateus Solano) sair do armário em “Amor à Vida”, a Globo promoveu um debate sobre a laicidade do Estado no programa “Na Moral”. Pedro Bial recebeu o padre Jorjão, o líder evangélico Silas Malafaia, o ateu Daniel Sotto-Mayor e o babalorixá Ivanir dos Santos.
Antes de mais nada um parêntese: como é bom ver Bial numa atração com esse nível de contribuição ao debate. Ou seja, confirmamos sua competência e que o “Big Brother Brasil”, com aqueles discursos duvidosos que faz antes das eliminações, é apenas prova de sua versatilidade dentro da emissora.
O encontro foi bacana e pudemos conferir diferentes linhas de pensamento. Pena que “Na Moral” – não é de hoje – padece da curta duração, o que exige uma edição muito fragmentada. Mas a discussão veio em boa hora. Tem sido cada vez mais frequente a interferência religiosa em decisões políticas e na atuação das instituições.
Se o Estado é laico, como querem interferir na decisão de pessoas do mesmo sexo se unirem? Como querem promover a “cura” gay? Por que há cruzes em órgãos públicos? E por aí vai… O programa partiu do princípio que, se uma denominação religiosa tem direito, outras também deveriam ter. E quem não se vê representado por nenhuma religião?
Saindo um pouco da TV, denominações evangélicas também espalham totens em cidades, culminando em ações judiciais. No estado de São Paulo lemos “Sorocaba é do Senhor Jesus Cristo” e “Jesus Cristo é o Senhor de Mauá”, logo na entrada dos respectivos municípios. Mas o Estado não é laico?
De qualquer maneira, o programa repercutiu nas redes sociais e o alvo principal foi o pastor Silas Malafaia, principalmente por suas posições tidas como homofóbicas.Alguns consideraram que ele “perdeu a chance de ficar calado”, outros que foi “preconceituoso” com as religiões afro-brasileiras. Teve aqueles que o viram até “mais moderado” que de costume – porém, sem conseguir manter a serenidade de Ivanir, o babalorixá.
Um comentário no Facebook, no entanto, me chamou atenção. Que a Globo teria programado a exibição da atração para a mesma noite do conflito na mansão da família Khoury, em “Amor à Vida”, como forma de acalmar os ânimos da ala evangélica (dando espaço a Malafaia), após a saída de Félix do armário, ainda que involuntariamente (ele foi fotografado com seu “Anjinho”, vivido pelo modelo Lucas Malvacini, por Aline, papel de Vanessa Giácomo).
As cenas da novela trouxeram emoção e tensão na dose certa. Apesar do contraponto com César (Antonio Fagundes), insistindo em rejeitar a orientação sexual do filho, o capítulo “levantou a bandeira” do respeito e da tolerância, batendo na tecla de que não há opção nem doença em jogo.
O diálogo entre Pilar (Susana Vieira) e Félix, apesar de piegas para alguns e recheado de didatismo, foi bem possível. Seria de se estranhar que ela nunca tivesse percebido a realidade diante de seus olhos. O pior cego é aquele que não quer ver. E você, acha que “Na Moral” serviu para abrandar capítulo tão impactante de “Amor à Vida?
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